Título: Câmbio assusta, mas ainda não afeta as exportações da indústria
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Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, Especial, p. A14

O câmbio continua sendo o maior fantasma da indústria brasileira em 2005. Apesar das exportações terem mantido o ritmo de alta no primeiro trimestre, com crescimento de 25,7% sobre o mesmo período do ano passado, as grandes companhias exportadores queixam-se da valorização do real. Em relação ao dólar americano, a moeda brasileira sofreu uma valorização de 9,09%, tendo como base as cotações de 31 de março deste ano e de 2004. O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, diz que o nível do câmbio já acendeu o sinal amarelo. "Tem de se tomar cuidado para o real não apreciar demais, pois já começa a apertar a margem de vários setores", argumenta. O executivo avalia que a perda de valor do dólar não é um efeito restrito ao Brasil. "É uma tendência mundial. Mas o que não é positivo é deixar apreciar o real demais, o que pode começar a tirar um pouco de competitividade da indústria nacional." Para Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do Grupo Cosan, o setor agrícola sofre hoje com o câmbio. Ele afirma que o dólar a R$ 2,60 reduz a rentabilidade das exportações de açúcar, mas descarta a possibilidade de o câmbio valorizado reduzir as exportações do produto no curto prazo. "O agribusiness tem um ciclo de produção, que não é possível interromper", diz. O Brasil exporta dois terços de sua produção de açúcar. Presidente da Votorantim Celulose e Papel (VCP), José Luciano Penido disse que o setor de celulose - praticamente todo voltado para a exportação - sente que parte da sua rentabilidade está sendo corroída pelo câmbio. O setor apresenta uma tendência de preços em alta neste ano que não deve ser afetada pela oferta com a novas plantas, como a Veracel. No caso de papéis, Penido estima que o consumo interno será maior do que o crescimento do PIB, acima de 5%. Rogério Oliveira, presidente da IBM Brasil, avalia que a desvalorização da moeda americana não deve afetar as exportações da companhia que começaram há dois anos. "Não perderemos mercado para empresas de outros países enquanto a desvalorização do dólar for um fenômeno mundial, como acontece agora", diz. Já o empresário Jorge Gerdau acredita que as exportações devem compensar a queda do mercado interno, já sentida no primeiro trimestre. "Esse é um dos motivos que está levando os setores a manter exportações mesmo com dólar desfavorável", afirmou. Ele disse que os embarques do grupo de janeiro a março ficaram no mesmo ritmo, com tendência de aumento. O empresário não enxerga, no curto e médio prazos, um movimento de valorização do dólar. "Tudo indica que vai permanecer como está durante um longo tempo", disse com ar pessimista. O presidente da Embraer, Mauricio Botelho, preferiu não fazer apostas para a taxa de câmbio em 2005. "Eu jamais esperava que fossemos ficar abaixo de R$ 3,00 e há muito tempo estamos em R$ 2,60", comentou. Com esse comportamento do câmbio, "ao contrário do esperado, as exportações estão crescendo", analisou o executivo, acrescentando que é difícil prever "o limite para o bom desempenho" das vendas externas. Segundo Botelho, a situação da Embraer nesse contexto é "distinta", porque se por um lado a empresa tem receitas em dólar, por outro compra 50% de seus insumos também em moeda estrangeira. Botelho acha que devido à essas características operacionais, a empresa tende a elevar suas receitas em 2005. "Estamos prevendo (entregar) aproximadamente o mesmo que no ano passado, 145 aviões entregues, num mix de produtos de maior valor, então a tendência (das receitas) é crescer", disse o executivo. Botelho espera encerrar 2005 com o mesmo índice de lucratividade do ano passado, por volta de 11% das receitas. "A empresa está com base forte, estrutura correta, boa posição de mercado, podemos então achar que temos chance de repetir o bom desempenho", afirmou. O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, diz que o setor petroquímico deverá apresentar um crescimento em relação ao desempenho obtido no ano passado, uma vez que o setor atravessa um ciclo de alta, com aumento das margens. "Nossa receita e o lajida deverão crescer sobre o ano passado", disse. O câmbio não tem afetado os resultados da companhia porque mais de 80% dos custos da Braskem são dolarizados. "Podemos ser afetados de forma indireta. Já que o câmbio pode atingir nossos clientes, os transformadores de plásticos", disse. Mas ele garante que esse efeito não ocorreu até agora. Mesmo com o câmbio menos favorável, a Weg espera repetir neste ano a mesma lucratividade de 2004. Mas, de acordo com Décio da Silva, presidente da fabricante de motores, será preciso reduzir custos, aumentar a produtividade e até os preços dos produtos exportados devido ao real valorizado. Parte da produção, por exemplo, será direcionada, ao longo deste ano, para suas unidades no exterior (México, China, Argentina e Portugal). Hoje, 10% da produção já é feita no exterior, mas Silva não arrisca dizer quanto mais deverá ser deslocada. No primeiro trimestre, a Weg conseguiu ampliar suas exportações em 20%, para R$ 261,2 milhões, na comparação com o mesmo período de 2004. As vendas totais subiram 25% nos primeiros três meses. Silva acredita que não haverá uma redução no volume exportado. Para ele, o que ocorrerá é uma concentração das exportações em poucos produtores. "Fabricantes menores e menos preparados vão parar de exportar." De acordo com Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, a fabricante de artigos têxteis deve repetir neste ano a mesma rentabilidade obtida em 2004. "Em volume, as vendas estão crescendo e esperamos que a rentabilidade acompanhe isso", diz. Silva projeta para este ano um aumento de 25% nas vendas da Coteminas, impulsionada principalmente pelo fim das cotas têxteis. Mas, segundo o executivo, em 2006 já pode ocorrer uma redução nos volumes vendidos se o câmbio se mantiver no patamar atual. Para o presidente do Banco Real, Fabio Barbosa, a tendência da taxa de câmbio é de continuidade. "No momento, o mercado tende a ser mais ofertado", por isso não há perspectivas, pelo menos a curto prazo, de reversão na taxa de câmbio, explicou o presidente do Real. No entanto, ponderou Barbosa, "o dólar vem caindo desde 2002 e as exportações continuam reagindo, seja em preços, seja em eficiência". Isso mostra, disse o executivo, que o setor exportador está "mais pujante do que se esperava".