Título: Empréstimos vão além do exigido e saltam 62,7%
Autor: Alex Ribeiro e Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, Finanças, p. C1

As operações de crédito imobiliário cresceram mais do que o previsto no primeiro trimestre, e vão influir positivamente nos termos do novo acordo entre os bancos e as empresas de construção a respeito da oferta de recursos para esses negócios. Os novos financiamentos com recursos da caderneta chegaram a R$ 909 milhões no primeiro trimestre, alta de 62,78% em relação ao mesmo período de 2004. A expansão representa o dobro dos 30% previstos em resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN). Embaladas pelos números favoráveis, as três partes voltaram a se reunir para definir os volumes de recursos para o segundo trimestre. A proposta da construção civil e das entidades de poupança e financiamento é que, a exemplo do período anterior, o crédito aumente 30%. Desta forma, haveria um total de R$ 1,710 bilhão para crédito imobiliário no primeiro semestre de 2005. Esse é um número visto apenas como referencial, e a expectativa é que seja mais uma vez superado. A proposta está sob análise da diretoria do BC e, se aprovada, será submetida ao CMN na semana que vem. Os representantes do setor privado também apresentaram uma série de propostas para mudanças na legislação de crédito imobiliário. Uma das sugestões é que valha também para imóveis usados a fórmula criada em janeiro para incentivar empréstimos com juros menores para imóveis de valores mais baixos. Hoje, a regra só vale para novos. Também foi sugerido ao BC a criação de uma nova linha de financiamento que reúna tanto recursos da poupança quanto do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). No caso, os juros seriam também mais baixos, e os imóveis financiados, de menor valor. "É uma forma de dar vazão aos recursos para financiamento imobiliário do FGTS", disse Paulo Safady Simão, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). No ano passado, lembrou, ficou sem emprestar R$ 1,5 bilhão dos R$ 7,5 bilhões disponíveis do FGTS. Neste ano, o orçamento é de R$ 11,2 bilhões. Outra proposta entregue ao governo é elevar de R$ 350 mil para R$ 450 mil o valor de avaliação dos imóveis financiados, para adequá-lo à realidade de preços de novos empreendimentos em grandes centros urbanos. O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Décio Tenerello, prefere não comentar os termos do acordo antes da avaliação do governo. Ele comemora, porém, o desempenho dos financiamentos para aquisição da casa própria no primeiro trimestre. "Houve uma mudança de postura em relação ao crédito imobiliário", disse Tenerello. O tomador de recursos ficou mais animado e os bancos responderam ao aumento da demanda, "além da exigibilidade". Para ele, o crescimento econômico, a redução do desemprego e o aumento do nível da massa salarial animaram o tomador de recursos a assumir um compromisso de longo prazo, como o crédito imobiliário. O crescimento econômico previsto entre 3,5% e 4% neste ano, mesmo inferior aos 5,18% de 2004, é suficiente para manter o tomador interessado, afirmou. "Há mais tranqüilidade para tomar dinheiro a prazo mais longo." Do lado dos bancos, começam a fazer efeito as mudanças feitas na legislação pela Lei 10.931, de setembro de 2004, que deu mais tranqüilidade jurídica ao credor. Essa foi a lei que criou o patrimônio de afetação, que garante que os recursos pagos pelo comprador do imóvel ao incorporador seja utilizado exclusivamente para essa finalidade; e o incontroverso, que estabelece que, em caso de ação em juízo, o cliente continue pagando o que não está sendo questionado e só suspenda os pagamentos do que questiona. "Isso deu aos bancos maior confiança de que as garantidas serão válidas, estimulando o aumento da oferta de crédito", disse Tenerello. Simão, da Cbic, disse que está absolutamente tranqüilo sobre a disposição dos bancos em conceder crédito imobiliário. "O crescimento de 60,78% é a maior prova de que as instituições financeiras estão dispostas a fazer financiamento habitacional", disse. "Não faltou dinheiro para construtores que quiseram produzir." Ele lembra que o resultado foi obtido mesmo antes de todos os bancos colocarem no mercado os novos produtos negociados no início deste ano, como as linhas com juros mais baixos para imóveis de baixo valor. "Até o final de maio vamos aprovar uma campanha institucional de estímulo ao crédito habitacional, que deverá ampliar ainda mais a demanda", afirmou.