Título: Repique nos índices de inflação já era esperado, afirma Palocci
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, Finanças, p. C2

Os índices de inflação vão recuar com a política monetária adotada pelo Banco Central (BC), disse ontem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O ministro disse que parte do atual repique já estava sendo previsto pelo BC desde o início do ano. "Os resultados virão, a política monetária dá resultado, mas não de uma semana para outra, demora de 6 a 9 meses. No começo do ano passado, quando o BC não queria se precipitar em relação aos juros, foi muito criticado. Mas nos meses seguintes verificou-se que o diagnóstico estava certo. Esse ano a mesma coisa ocorreu. O Banco Central começou a fazer um esforço de combate à inflação, muita gente de novo criticou o BC, mas os dados mostram que ele estava certo novamente." O ministro, entretanto, preferiu não discutir as razões da alta da inflação, citando a proximidade da reunião do Copom. Palocci participou ontem do seminário anual "Brazil Summit", organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Além de Palocci, participaram do evento o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, o presidente do BC, Henrique Meirelles, e os ministros Paulo Bernardo, do Planejamento, e Roberto Rodrigues, da Agricultura. Os ministros e o presidente do BC foram bombardeados com perguntas sobre possível elevação do superávit primário. Agências de risco e bancos acham que os juros estão sendo a única arma contra a inflação, com menores resultados fiscais (a meta de 4,5% no ano passado cai para 4,25% este ano). Levy recebeu uma pergunta direta sobre o assunto e disse que mais importante que aumentar o superávit agora é garantir a investidores de longo prazo que não haverá aumento de carga tributária, como ocorreu com o anúncio de meta para essa variável até 2008. "Dessa maneira, estamos estimulando o investimento e o lado da oferta. No longo prazo, isso significa uma redução das expectativas inflacionárias", afirmou Levy. "Estamos confortáveis com o superávit atual e nosso objetivo no momento é melhorar a qualidade dos gastos. Levy anunciou ainda que em breve colocará em audiência pública medidas para facilitar a entrada de investidores estrangeiros no mercado local de dívida brasileiro. Perguntado sobre se não seria mais fácil conseguir novos investidores emitindo bônus em reais no mercado externo, o secretário disse que "o melhor é fortalecer o mercado local de capitais". Mas afirmou ser precipitado descartar totalmente uma emissão em reais no exterior. O secretário do Tesouro deve publicar ainda esta semana um estudo comparando os ratings e números do Brasil com o de outros países emergentes. Levy diz que o Brasil tem alguns índices melhores do que os de países com classificação superior. O secretário admite que o total da dívida sobre PIB no Brasil é mais alto que o do México ou África do Sul, considerados "investment grade", mas não é pior do que os índices de outros países melhor classificados, como Colômbia ou Filipinas. O Brasil é um dos países com maior superávit primário do mundo e tem instituições consolidadas. A comparação foi feita com África do Sul, México, China, Rússia (todos investment grade), Índia, Peru, Colômbia, Turquia, Indonésia e Filipinas. Levy participa hoje de uma conferência na Fitch Ratings.