Título: BC espera por retração da economia
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, Finanças, p. C2

A programação monetária do segundo trimestre, encaminhada pelo Banco Central ao Congresso, prevê que a demanda agregada irá sofrer uma contração nos próximos meses, em virtude das recentes elevações na taxa básica de juros. O documento, com 19 páginas, faz um diagnóstico do recrudescimento da inflação observado em fins de 2004 e início de 2005. Três fatores pesaram: aquecimento da demanda, choques de oferta diversos e mecanismos de indexação da economia. A demanda esteve mais aquecida, segundo a programação monetária, devido à expansão da renda e do crédito. Seus efeitos sobre a inflação, prossegue o documento, podem ser constatados na evolução recente dos núcleos e dos índices de difusão (número de produtos e serviço cujos preços estão se acelerando). Mas o BC já enxerga uma reversão nessa tendência. "O desempenho da demanda deverá refletir, nos próximos meses, o impacto da elevação recente nas taxas de juros", afirma o documento. Seguramente, o BC se refere aos efeitos defasados da política monetária sobre a atividade econômica e preços. Estima-se que uma alta de juros leve de três a seis meses para afetar o nível de demanda; os efeitos sobre os índices de inflação são um pouco mais defasados, e costumam ocorrer de forma plena em algo como 12 meses. Assim, ainda há efeitos defasados das sete altas de juros ocorridas até março. Entre os choques de oferta que pressionaram a inflação, o BC destaca em especial os preços de produtos "in natura" e de insumos importantes na cadeia produtiva. A programação monetária se refere também a "mecanismos de indexação, ainda que informais, como os reajustes nos preços da inflação e de alguns monitorados que têm como referência a inflação do último ano". O BC, porém, vê esses dois fatores como "temporários" e "pontuais" - e acredita que irão exercer uma menor influência sobre os índices de inflação nos próximos meses. A programação monetária vem perdendo importância desde a década passada, mas continua a ser um canal de prestação de contas do BC ao Congresso. O desenvolvimento dos meios de pagamentos tornou menos efetivo o combate à inflação por meio do controle de moeda na economia. Hoje, esse trabalho é feito por meio da taxa de juros. Mas os volumes de dinheiro em circulação na economia continuam a ser um indicador importante do nível de atividade e de demanda.