Título: Aplicadores procuram o refúgio do curto prazo
Autor: Flavia Lima
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2005, EU &, p. D2
A queda acelerada da bolsa e a instabilidade do dólar vêm incentivando as aplicações nos fundos de curtíssimo prazo, ao mesmo tempo que têm prejudicado o desempenho das carteiras mais agressivas. Na última semana, até o dia 14, os fundos curto prazo - formados por títulos com vencimento médio inferior a 365 dias - lideraram as captações, com depósitos de R$ 1,080 bilhão, segundo dados do site Fortuna. Em igual período, os fundos de ações perderam em média 2,5%, influenciados pela queda de 5,03% do Ibovespa. Os saques da categoria - os maiores da semana - totalizaram R$ 21 milhões. O período compreendido entre os dias 7 e 14 de abril também não foi bom para os multimercados. As carteiras renderam 0,25%, ou 0,1 ponto percentual abaixo do CDI, com alta de 0,35%. Com o desempenho, os resgates somaram R$ 19 milhões. Um aperto monetário mais forte do que o esperado na economia americana - o que poderia diminuir de modo expressivo o apelo dos mercados emergentes para o investidor internacional - é um dos fatores a causar instabilidade, diz Edson Monteiro, vice-presidente de varejo do Banco do Brasil. Em meio às turbulências, diz ele, é natural que o investidor tente se proteger buscando alternativas mais conservadoras. "Temos registrado uma migração para fundos DI e curto prazo, o que é natural quando o aplicador está à procura de maior segurança", afirma, sem citar números. Os altos juros e as dúvidas com relação a uma nova alta na próxima reunião do Copom, na quarta-feira, são outras variáveis a aumentar o interesse pelos fundos mais conservadores, lembra Odair Abate, estrategista do BankBoston. Sinara Figueiredo, superintendente de serviços do Boston, confirma a migração para as carteiras DI do banco, que registram captação líquida de R$ 390 milhões em 2005. Segundo ela, o único fundo curto prazo do banco não tem atraído parcela significativa de investidores. Aberta no início do ano, a carteira captou R$ 10 milhões - o mesmo volume atraído pelos fundos de ações do Boston. Sinara afirma que o investidor, em especial pessoa física, na maioria das vezes não leva em conta o cenário econômico para tomar suas decisões. "Ele vê volatilidade no fundo e opta por sacar recursos, o que não recomendamos" diz. Ela lembra que, no caso dos curto prazo, o investidor não deve se esquecer da tributação menos favorável. Pelas novas regras, esses fundos contam com alíquotas que vão de 22,5% para aplicações até seis meses a 20% para aquelas acima de seis meses. Entre os fundos de longo prazo, há alíquotas inferiores, de 17,5% e 15%, para investimentos acima de um e dois anos, respectivamente. "Curto prazo só para os que vão usar o dinheiro em até um ano." Acima disso, o longo prazo é mais atraente, sem que seja muito mais volátil. Mas a tributação menos favorável parece não incomodar alguns investidores. Segundo o Fortuna, os fundos curto prazo lideram as captações no mês, com R$ 900 milhões até o dia 14. No ano, essas carteiras captam R$ 4,798 bilhões, atrás apenas dos fundos de renda fixa (com captação de R$ 17,513 bilhões) e dos DI, com R$ 8,262 bilhões. Os multimercados ensaiam uma recuperação em abril, com R$ 484 milhões. No ano, porém, os saques encostam nos R$ 20 bilhões.