Título: Celulares dizem que é cedo para a 3G
Autor: Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Empresa, p. B-4

Operadoras avaliam que é preciso primeiro amortizar gastos para fazer novos investimentos

Os presidentes da Vivo, Oi e TIM apontaram como precipitação a Anatel já estar preparando estudos visando à futura realização de leilão para a venda de licenças de serviços de terceira geração de telefonia móvel (3G). Mostraram, também, preocupação com relação às normas de interconexão para 2005 quando entrarem em vigor os novos regulamentos de remuneração de redes que serão elaborados pela Anatel. As propostas estão em consulta pública até 18 de outubro. Os executivos participaram do II Fórum da Ahciet, sigla em espanhol para a Associação Hispano-americana de Empresas de Telecomunicações, e defenderam que as licenças para a 3G devem ser proteladas. O titular da Oi, Luiz Eduardo Falco, disse que não é a hora de novos investimentos: "O Brasil não é um país rico. O Maranhão tem 17% de penetração de celular. É preciso que haja retorno sobre o capital investido, caso contrário os acionistas não farão novos investimentos", avaliou. O presidente da Vivo, Francisco Padinha, completou: "A chegada intempestiva da terceira geração pode impactar o crescimento harmonioso desse mercado. A tecnologia existente hoje já permite uma série de serviços 3G", reagiu. O presidente da TIM foi igualmente enfático: "Será que é hora de pensar em 3G num momento em que as operadoras ainda não amortizaram seus investimentos e ainda estão realizando as transferências das redes TDMA?", indagou. As novas normas regulatórias, por sua vez, dividiram os presidente das empresas. De um lado TIM e Vivo, que operam apenas com telefonia celular, criticaram a proposta de livre negociação nos custos com relação às ligações de fixos para móveis, o valor de uso da rede móvel (VU-M, no jargão do setor), que hoje onera as contas de telefonia fixa e boa parte dos recursos arrecadados é transferida para as celulares. Para o presidente da Oi, braço de telefonia celular da Telemar, "o tráfego fixo-móvel cai dois dígitos ao ano porque é proibitivo", disse. "Se esse problema não for resolvido, a famosa VU-M, que alimenta a rede móvel, vai morrer. O nosso negócio é de redes e as pessoas têm que poder falar de qualquer acesso", frisou Falco. Araújo, da TIM, retruca: "Os novos regulamentos vão gerar uma transferência de receita das móveis para as fixas quando deveriam ser criadas condições para que os ganhos de eficiência sejam repassados aos usuários." Padinha lembrou que, na Europa, não existe livre negociação de tarifas e o celular tem penetração próxima a 100%. "Nós temos 31% de penetração e um longo caminho a percorrer. Não há livre negociação para quem tem grande poder de mercado. Não vai ser livre negociação, mas imposição. E justamente na celular, onde tem competição. Na fixa é monopólio. O que está se fazendo é transferência do ambiente competitivo para o de monopólio", frisou. Procurada, a Anatel não retornou as ligações até o fechamento desta edição.