Título: Insumo pressionará preço do aço em 2005
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Empresa e Indústria, p. B-6

Cotações internacionais do carvão, coque e minério de ferro devem continuar subindo

Dezenas de empresários e executivos da siderurgia, presentes no fórum mundial do setor, realizado na Turquia, tiveram ontem a certeza de que as pressões de custos das matérias-primas e insumos para produção de aço vão continuar fortes em 2005. Esse consenso, que todos evitavam falar abertamente, mas admitiam, significa aumento nos preços do aço. No Brasil, o produto certamente sofrerá repasse de custos. Não existe previsão de novos reajustes este ano, mas o aço no mercado interno já acumula, em média, alta de 40% "A China é o fator de desequilíbrio do mercado internacional siderúrgico", afirmou Jorge Johannpeter Gerdau, presidente do grupo Gerdau. Para ele, as informações de especialistas só confirmaram o que todos já sentiam nas negociações de novos contratos para o suprimento das fábricas em 2005. Sem carvão e coque as usinas chamadas integradas não produzem aço. Muito menos sem minério de ferro. O mesmo ocorre com as fábricas de vergalhões, fio-maquina e perfis, que necessitam de sucata para abastecer seus fornos. De acordo com as apresentações de especialistas, os preços do carvão e coque, cujas fontes de suprimento já não conseguem atender a crescente demanda no mundo, mais minério de ferro e sucata, indicam novas altas nos contratos para 2005. "Nossa expectativa é de que a tonelada de carvão mineral, usado na fabricação de coque, fique ao redor de US$ 120 em 2005", disse Rinaldo Campos Soares, presidente do grupo Usiminas/Cosipa. Em 2004, o grupo pagou a tonelada, em média, entre US$ 50 e US$ 60. Já o coque chegou a ser negociado, no início do ano, a US$ 450 a tonelada. Depois de um arrefecimento, voltou a subir e hoje está acima de US$ 300 a tonelada. O cenário de oferta apertada diante da procura e de possível escassez para 2006/2007 traz preocupações. Há dois anos, o produto era vendido a US$ 80 a tonelada. "Vemos o fim do casamento, que parecia tranqüilo para as usinas de aço, e o início da lógica de mercado na indústria do carvão", disse na sua apresentação Gerard McCloskey, da consultoria McCloskey Group, especializada em mercados de carvão e coque. O choque chegou ao setor em 2004 e colocou as siderúrgicas contra a parede, relatou. "A classe que sempre foi uma espécie de servente das usinas começou um movimento de revolta". A vingança foi a abrupta elevação dos preços do coque que se observou no inicio de 2004, aliada com falta do produto que levou a Arcelor a parar um de seus fornos na Europa. "Novos projetos para oferta de carvão, coque e minério de ferro demandam pelo menos dois a três anos para ficarem prontos", destacou Jorge Gerdau. Para o empresário, que vem buscando alternativas de garantir suprimento de gusa para suas usinas de produtos longos, a partir de sucata, e que depende de carvão para fabricar o coque usado na Açominas, "a pressão dos preços das matérias-primas vai pesar sobre a estrutura de custos do aço e a pressão de demanda da China, que responde por 25% do consumo mundial, bem como da produção, será mantida." A China, que era um fornecedor ativo no mercado mundial de carvão e coque, limitou seus embarques para atendimento interno. E já começa até a importar parte desse produto. Gerdau informou que nos dois últimos anos os chineses responderam por pelo menos 50% do crescimento de consumo/produção da siderurgia mundial. No atual ritmo de crescimento da economia, com previsão do IISI de 7% para 2005, a produção chinesa vai a 266 milhões de toneladas no próximo ano - 46 milhões a mais que neste ano - e o consumo interno a 290 milhões de toneladas. Gerdau, bem como Jose Armando de Figueiredo Campos, presidente do IBS e da Siderúrgica de Tubarão (CST), descartam nova queda de braço com os consumidores no país para reajuste nos preços. O fenômeno de alta é mundial, afirmam. "Buscamos negociações caso a caso", disse Campos. As montadoras de automóveis são as que mais reclamam, alegam falta de produto devido ao aquecido mercado das exportações e ameaçam importar. Gerdau disse que o problema dos principais clientes no país é a falta de uma cultura de contratos de mais longo prazo. "Eles querem fornecimento para o próximo mês, quando não imediatamente. É preciso mudar essa mentalidade", ressaltou. Ele relatou que proposta nesse sentido não foi aceita e que considera seis meses um período razoável para ambos os lados. O empresário lembrou o caso ocorrido em 2003 e em menor escala neste ano. Com a economia fraca no primeiro semestre, as usinas partiram para a exportação, firmando compromissos de embarques com diversos clientes externos. De repente a demanda interna aqueceu e o que se viu foi um certo desequilíbrio na capacidade de atender os pedidos. "Se houvesse programação por parte dos clientes, isso não teria ocorrido", observou.