Título: Lamy pede apoio e Amorim diz que escolha é "difícil"
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2005, Brasil, p. A3

O candidato francês à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, foi o primeiro a buscar o apoio do Brasil para o cargo, em telefonema, ontem, ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, segundo revelou o próprio Amorim, após encerrar a reunião de chanceleres da Comunidade Sul-Americana de Nações. Amorim classificou de "difícil" a escolha entre Lamy, o uruguaio Carlos Perez del Castilho e o africano Jaya Cuttaree, das Ilhas Maurício. Ele evitou, porém, cuidadosamente, descartar o nome de Lamy, apesar de a campanha do candidato brasileiro já excluído da disputa, Luis Felipe de Seixas Corrêa, ter enfatizado a necessidade de ter um diretor-geral originário de um país em desenvolvimento. "Não basta ter nascido em um país em desenvolvimento; é preciso ter atuação política que corresponda aos interesses dos países em desenvolvimento", comentou o ministro, que disse ser necessária, também, capacidade de "liderança". O Brasil estaria em posição difícil ao optar entre os três candidatos mesmo que não tivesse lançado candidatura própria, afirmou. Amorim lembrou ser "amigo" de Lamy, embora possa discordar das posições do francês, até recentemente o encarregado de negociar em nome da União Européia (UE), na OMC. O Itamaraty lançou o nome de Seixas Corrêa, contra a candidatura de Castilho argumentando que o uruguaio teria sido um dos responsáveis pelo fracasso da reunião ministerial da OMC, em Cancún, em 2003, ao apresentar uma proposta de negociação comercial em agricultura que refletia apenas interesses dos Estados Unidos e União Européia (esta representada por Lamy na ocasião). Embora insistisse que Lamy "merece ser ouvido com atenção" e que os argumentos usados na campanha de Seixas Corrêa devam ser reavaliados, Amorim fez questão de lembrar que Lamy, recentemente, ofendeu os países da região amazônica ao defender interferência internacional na gestão dos recursos naturais da região. O governo não se arrepende de ter lançado a candidatura de Seixas Corrêa, porque foi um "posicionamento político" frente às candidaturas existentes, disse Amorim. Além de criticar Castilho pela atuação em Cancún, o Itamaraty teme que Cuttaree seja muito permeável a pressões para, em troca de tratamento favorecido aos países africanos e do Caribe, manter subsídios agrícolas dos países ricos, condenados pelo Brasil. Lamy é visto como um nome identificado com os interesses dos governos europeus, embora haja quem, no Itamaraty, aponte nele credibilidade, competência e capacidade de liderança para forçar os europeus a aceitarem dar maiores concessões para redução do protecionismo em agricultura. Amorim, ontem, revelou que o governo brasileiro pediu ao recém-eleito presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, que submetesse a candidatura de Perez del Castilho, com a de Seixas Corrêa, a uma escolha entre os governos do G-20. Vázquez não aceitou. "Nosso candidato teria dificuldades em passar nas quartas de final, entre outras razões pela falta de transparência", comentou o ministro, informando que não recebeu, até hoje, dados sobre a primeira votação na OMC, que eliminou o brasileiro. Um acordo na América do Sul e maior transparência poderiam levar à vitória de Seixas Corrêa, acredita Amorim. "Erramos em algumas avaliações, inclusive quanto ao grau de transparência (da eleição)", comentou. Amorim comentou os resultados da OMC logo após o encontro de ministros de Relações Exteriores da Comunidade Sul-Americana de Nações, em formação (cuja maioria dos membros defende a candidatura de Perez del Castilho). Na reunião, sem o chanceler argentino, Rafael Bielsa, os ministros rejeitaram propostas brasileiras de maior institucionalidade à comunidade sul-americana, criada em 2004, mas concordaram em marcar para setembro a próxima reunião dos presidentes do continente, para buscar formas de ação conjunta, em questões como eleições para organismos internacionais.