Título: UE volta atrás e negociação agrícola termina sem acordo sobre tarifas
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2005, Brasil, p. A3

A União Européia (UE) voltou atrás, ontem, no último momento, em um acordo que desbloquearia a negociação agrícola na Organização Mundial do Comércio (OMC), provocando a cólera do Brasil e dos outros exportadores agrícolas. "Não aceitaremos reabrir o acordo", reagiu o subsecretário de Comércio do Itamaraty, embaixador Clodoaldo Hugueney, indicando que se a agricultura não anda, as outras negociações também não avançarão. Após quatro meses de discussões técnicas altamente complicadas, ontem cedo os países, enfim, pareciam ter chegado a um entendimento sobre a conversão de tarifa específica (em dólar) para o equivalente em tarifa "ad valorem" (percentual do preço). Com isso, poderia-se partir para a elaboração de uma fórmula de redução tarifária. Pela manhã, os suíços aceitaram um compromisso, derrubando a última oposição. Obtiveram um critério que pode implicar redução menor de alíquota de importação para queijos e produtos processados em geral. Mas às 17 horas, quando os mais de 100 países se reuniram para bater o martelo no acordo, foi a União Européia (UE) que voltou atrás alegando haver "um equívoco técnico" sobre a aplicação dos percentuais para fazer a conversão. A frustração foi ainda maior porque a UE aprovara o entendimento junto com o Brasil, Estados Unidos, Austrália e Índia. Os países esperavam enfim entrar em negociações agrícolas de verdade, a fim de definir até fim de julho a fórmula para reduzir as tarifas e colocar os percentuais até dezembro. Para chegar ao acordo, afinal bloqueado, o Brasil e os outros exportadores fizeram várias concessões. Mas foi considerado aceitável. Para os produtos de maior interesse do país, a equivalência obtida pelos critérios negociados são próximos dos preços de exportação do país. "O interesse do agronegócio brasileiro era obter equivalência que levasse a maiores cortes de alíquotas e isso estava obtido", disse André Nassar, do Ícone, instituto financiado pelo setor privado. O mediador da negociação agrícola, Tim Groser, anunciou que os países vão fazer, nas próximas semanas, análises e cálculos sobre a suposta "má compreensão" levantada pela UE.