Título: Para Jarbas, coligação é "quase impossível"
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2005, Política, p. A9

A proposta de uma coligação eleitoral para 2006 feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PMDB tem uma condição: Lula quer o partido inteiro na aliança, sem as tradicionais divisões que o caracterizam como uma federação. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), confirmou ontem a exigência do PT durante almoço que teve com o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, em Brasília. Jarbas é o nome preferido de Lula para companheiro de chapa em 2006, na eventualidade de a coligação vir a ser viabilizada, o que o próprio governador considera muito difícil. "Não diria impossível, porque não existe impossível na política", diz Jarbas. "Mas é quase impossível". Aponta as divergências existentes entre as duas siglas em Estados como Rio Grande do Sul e Pernambuco e no Distrito Federal para justificar sua descrença. Jarbas evita comentar, mas é certo que mais de um ministro do governo Lula já o abordou sobre a possibilidade de ele ser candidato a vice de Lula ou de formar uma aliança com o PT de Pernambuco na sucessão estadual. Lula ainda não tocou no assunto com o governador, a quem prometeu convidar para uma "conversa política", na última reunião administrativa que mantiveram. Jarbas passou o dia ontem em Brasília, mas não conversou com Lula, como era especulado. Quem tocou no assunto com ele foi o presidente do Senado, Renan Calheiros, que se propôs a intermediar a conversa. Jarbas respondeu que bastaria Lula telefonar, que ele atenderia ao convite do presidente. A avaliação de Jarbas Vasconcelos sobre o governo Lula melhorou um pouco, mas o governador ainda se declara na oposição. "Melhorou um pouco. Está liberando as verbas. O desempenho administrativo é médio. Mas eu pertenço a outro campo, o de oposição". Jarbas argumenta que sempre defendeu o apoio do PMDB às reformas propostas por Lula, mas acha que o partido deve ter candidato próprio à Presidência da República em 2006, "até para resgatar a sua identidade, se reencontrar com a população, da qual anda distante". Nome sempre lembrado quando se fala em candidatura própria do PMDB, Jarbas descarta a hipótese. Nas conversas que teve em Brasília, o governador não manifestou muito conforto com o nome de Anthony Garotinho (RJ), que é a atualmente a opção do PMDB para a sucessão de Lula em 2006. Jarbas assegura que não tem projeto político nacional para 2006. Se disputar a eleição, será para senador. Ainda assim se o quadro de sua sucessão no Estado se apresentar tranqüilo. Do contrário, pode ficar até o final do mandato, sem disputar cargo eletivo. O assédio do PSDB sobre o governador pernambucano já foi mais intenso. Diminuiu nas últimas semanas. Lula ainda não marcou a "conversa política" com Jarbas. O Planalto esperava que Renan Calheiros recorresse à sua condição de presidente do Senado para tentar compor a unidade do PMDB. O Planalto avalia que isso não ocorreu e por isso estabeleceu pontes diretas com os setores de oposição do partido. Aldo Rebelo (Coordenação Política) costurou a conversa de Lula com o ex-governador Orestes Quércia. O ministro José Dirceu (Casa Civil) pavimentou o caminho para a abertura de negociações com o presidente da sigla, Michel Temer (SP), e os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Eliseu Padilha (RS). A abertura de interlocuções paralelas deixou Renan aborrecido, inclusive porque o presidente do Senado desconfia que seja um ato hostil de José Dirceu contra ele, que não era o candidato dos sonhos do ministro para a presidência do Senado. Mas esse é um problema recorrente no PMDB: antecessor de Renan no cargo, José Sarney nunca foi reconhecido como o interlocutor do partido "como um todo" com o governo. O mesmo ocorre agora com Renan. Para ter o PMDB "inteiro", Lula terá de negociar com cada integrante da federação.