Título: Caixa quer lançar no próximo ano fundo de recebíveis de saneamento
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Finanças, p. C-2

A Caixa Econômica Federal (CEF) quer lançar, no próximo ano, um fundo de investimento em direitos creditórios (FDIC) lastreado em recebíveis da área de saneamento. A idéia é criar um fundo com R$ 100 milhões de patrimônio, informou, ontem, o vice-presidente de finanças e mercado de capitais da Caixa, Fernando Nogueira da Costa. A Caixa está se inspirando no sucesso de venda na rede da própria Caixa de dois fundos imobiliários que montou, o Almirante Barroso de R$ 110 milhões de patrimônio e a Torre Almirante, de R$ 104 milhões. No primeiro caso, o lastro é o aluguel pago pela Caixa; e, no segundo, pela Petrobras. Já o novo fundo terá como lastro os recebíveis de saneamento - contas de água e esgoto - das empresas que tomaram crédito da CEF. O banco contratou R$ 1,7 bilhão em empréstimos para saneamento no ano passado e R$ 2 bilhões neste ano até junho, informou o vice-presidente de controladoria, João Dornelles. "Ao fazer o fundo, a Caixa abre espaço para novas operações", explicou Costa. Antes de fazer uma apresentação à Associação Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), ontem, em São Paulo, os dois executivos informaram ao Valor que a demanda por crédito desacelerou. A demanda está "um pouco aquém da meta para este ano", salientou Dornelles. A Caixa pretende fechar o ano com R$ 29 bilhões em créditos contratados e, até agosto, chegou a apenas R$ 16,2 bilhões, dos quais R$ 11 bilhões para pessoas físicas. Costa descartou a influência da tendência de alta dos juros na demanda por crédito. Segundo o executivo, os principais mercados da Caixa - crédito em consignação e para pequenas e médias empresas - não são afetados decisivamente pela perspectiva de uma alta moderada da Selic, que pode passar dos 16,25% atuais para 17% no final do ano. As operações comerciais da Caixa Federal, representam apenas 5% dos ativos totais da instituição, que atingiram R$ 166,697 bilhões ao final de junho, 24,1% acima dos R$ 134,329 bilhões de igual mês do ano passado. Mas contribuíram para 13% do resultado líquido, que foi de R$ 624 milhões nos primeiros seis meses do ano. Ainda assim, notou Costa, o spread cobrado é de 19 pontos percentuais, inferior aos 27 pontos da média do mercado. A carteira de crédito de pessoa física fechou o semestre em R$ 5,4 bilhões, dos quais nada menos do R$ 3,4 bilhões são crédito em consignação. O crescimento da carteira foi de 29% no ano, mais do que o dobro da expansão de 13,49% do mercado. Já as operações com pessoas jurídicas tiveram uma expansão de 24,28% no ano, para R$ 7,2 bilhões em junho, comportamento em linha com o resto do mercado. A maior parte da receita do banco, porém, vem da tesouraria: de uma carteira de títulos públicos de R$ 78,817 bilhões, equivalente a 47,3% dos ativos totais, ou a 10% da dívida pública, lembrou Costa, a Caixa retira 68% do seu resultado. O spread desse negócio, de 4,3 pontos percentuais, nem é tão amplo, mas o ganho vem do volume elevado. Costa conta que esses dois negócios - o crédito comercial e a tesouraria - garantem os bons resultados da Caixa, permitindo a realização de operações de política pública, basicamente o crédito imobiliário, em que o banco apenas empata a receita com os custos, cobrando um spread de 1,55 ponto, e com uma contribuição de 0,2% para o resultado. Se essa não é uma política deliberada da Caixa, ela acabou segundo a conseqüência mais eloqüente da capitalização de R$ 50 bilhões feita pelo Tesouro no banco, em 2001. A operação compreendeu a transferência de R$ 27,2 bilhões em ativos para a empresa Emgea; uma capitalização de R$ 9,3 bilhões; a venda de R$ 8,4 bilhões em créditos para o Tesouro com pagamento em LFT; e R$ 13,6 bilhões em créditos a estados e municípios liquidados antecipadamente pelo Tesouro, que passou a ser o credor. Apesar de ser uma empresa de capital fechado, a apresentação da Caixa atraiu a presença de cerca de 160 analistas. Rumores de uma abertura de capital do banco sempre circularam pelo mercado. Costa garante que "essa discussão não existe na Caixa". As apresentações aos analistas, contou, que começaram no ano passado como resultado das promessas de transparência após a reestruturação.