Título: Para BC, fusão da AmBev é investimento
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2004, Finanças, p. E-2
Setor privado discorda e acha que ingresso de capital produtivo este ano será de até US$ 12 bilhões
A diferença entre as previsões do setor privado e do Banco Central sobre investimento estrangeiro direto este ano deve-se à operação de compra de ações da AmBev na fusão com a companhia belga Interbrew. Segundo fontes, só essa operação representa uma entrada de US$ 5 bilhões. O Banco Central considera essa operação como investimento direto em seus cálculos, e por isso estima que o total investido este ano no Brasil chegue a US$ 17 bilhões. O setor privado exclui essa operação por não considerá-la investimento direto na capacidade produtiva e pelo seu grande tamanho, que distorce o total. Por isso, bancos privados esperam que o total de investimento direto estrangeiro este ano fique entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões (cerca de US$ 1 bilhão mensais). O Institute of International Finance (IIF) prevê apenas US$ 8 bilhões para este ano, previsão que considera o investimento líquido. Durante uma palestra ontem para investidores no Conselho das Américas, em Nova York, Meirelles foi perguntado por um analista do banco de investimentos Morgan Stanley sobre a concentração dos investimentos em algumas operações como a da AmBev. Ressaltando que não podia comentar casos específicos, Meirelles afirmou que "há um aumento generalizado de investimentos em diversos setores, porque a demanda não se restringe apenas a segmentos impulsionados por crédito, mas também estão reagindo ao aumento da massa salarial". O presidente do BC disse que os investimentos não se restringem mais a setores exportadores e já estão mais diversificados - embora em estágios diferentes de maturação em cada setor. Durante a palestra a investidores, Meirelles disse que o índice de uso da capacidade instalada está no pico histórico, ou maior nível desde o início da pesquisa. O presidente do BC, entretanto, não acredita que haja um gargalo na capacidade produtiva, dizendo que o primeiro setor a reagir foi o de máquinas e equipamentos e que parte dos investimentos já está incorporada à capacidade produtiva. "A formação de capital fixo já vem ocorrendo nos últimos meses, tanto em capacidade produtiva quanto em aumento de produtividade", afirmou. Meirelles disse que o BC está acompanhando atentamente a questão e seu possível impacto sobre expectativas de inflação futura, mas não disse se o Banco Central espera alguma redução no uso da capacidade instalada nos próximos meses. O BC não demonstra preocupação com os efeitos da queda da taxa de câmbio sobre os resultados comerciais. "Não temos meta para a taxa de câmbio", disse Meirelles quando perguntado sobre a possibilidade de intervenção.