Título: Exportação sustenta PIB do trimestre
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2005, Brasil, p. A3

Ao contrário do que se previa, as exportações continuaram a puxar o crescimento da economia no primeiro trimestre. A contribuição do setor externo (exportações menos importações ) para o Produto Interno Brasileiro (PIB) dos três primeiros meses do ano deve ficar entre 1,5 e 2 pontos percentuais, participação não vista pelo menos desde o início de 2004. Pela previsão da Rosenberg & Associados, o impacto do setor externo neste período chegará a 1,9 ponto percentual, para um crescimento de 3,5% do PIB em relação ao mesmo trimestre do ano passado. É a maior taxa desde o segundo trimestre de 2003, quando a participação ficou em 3,8%. Para Johan Osorio Soza, economista da Rosenberg & Associados, o desempenho da demanda interna no começo de ano foi decepcionante. Mesmo com juros ao consumidor em queda, crédito em expansão e aumento da massa salarial, principalmente pelo emprego, o comércio ainda está concentrado na venda de bens de consumo duráveis. Os produtos semi e não-duráveis, como calçados e têxteis, no primeiro caso, e alimentos no segundo, reagem de forma tímida. No primeiro bimestre, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os setores industriais com boa parte da produção destinada ao mercado externo tiveram desempenho bem acima do total da indústria, que cresceu 5,2% sobre igual período de 2004. O ramo de veículos automotores apresentou uma robusta evolução de 14,7% no dois primeiros meses do ano, e a produção de material eletrônico e equipamentos de comunicação avançou 19,2% no período. Só a fabricação de celulares cresceu quase 75%. Tanto a produção de veículos quanto a de bens eletrônicos, incluindo celulares, está bastante atrelada à demanda externa. Foto: Magdalena Gutierrez/Valor

Bráulio Borges, da LCA Consultores: PIB deve crescer 4,1% no ano e 1,9 ponto percentual do total virá do consumo das famílias

De acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as vendas externas de celulares atingiram US$ 244,7 milhões - o triplo do valor comercializado no mesmo período do ano passado. As exportações de autoveículos também mostraram crescimento vigoroso. Pelos dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as exportações no primeiro trimestre chegaram a US$ 1,255 milhão, um incremento de 44% sobre o mesmo período do ano passado. Em contrapartida, os segmentos mais atrelados ao consumo interno, ainda patinam e caminham abaixo do desempenho da indústria. A produção de alimentos e bebidas para uso doméstico e de semi-duráveis (têxteis e calçados), subiu 3,3% no primeiro bimestre. Mas a perspectiva dos analistas é de que a demanda doméstica mostre maior fôlego ao longo do ano e acabe por encabeçar o crescimento da economia no resultado final de 2005. A previsão de Bráulio Borges é de que o PIB cresça 4,1% no ano e 1,9 ponto percentual desse total virá do consumo das famílias. Ao mesmo tempo, a participação do setor externo (exportações menos importações ) deve ficar próxima a 0,2 ponto percentual, bem abaixo do 1,1 ponto percentual verificado em 2004, quando a economia avançou 5,2%. A partir de maio, segundo estimativas de Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult, o aumento do salário mínimo para R$ 300 vai injetar mais R$ 1,5 bilhão ao mês na economia brasileira. Para chegar a esses números, ele multiplicou o valor do reajuste, R$ 40, pelo número de ocupados que ganham até um salário mínimo e também pelos aposentados. Com mais dinheiro disponível para o consumo e uma perspectiva de continuidade da recuperação do mercado de trabalho também ancorada na melhora da renda, a contribuição do setor externo ao longo do ano deve recuar em detrimento da expansão do consumo interno. Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção, que espera uma participação de 1,5 ponto percentual do setor externo no PIB do primeiro trimestre, avalia que neste começo de ano, os números da indústria e do comércio não vieram bem, mas que o sentimento de otimismo por parte de empresário e consumidores ainda prevalece, o que indica que bons ventos devem soprar nos próximos meses. Ele acredita que o interior do país pode ter perdido dinamismo devido a efeitos da seca e influenciou de forma negativa a produção e o varejo. O desempenho surpreendente das exportações, no entanto, não está diretamente relacionado a uma fraca demanda doméstica nos primeiros meses do ano. Fábio Romão, da LCA Consultores, esclarece que a produção para o mercado doméstico continua a crescer, mas em magnitude igual ao até mesmo inferior à apurada no último trimestre de 2004. Isso pode ser resultado do impacto do câmbio sobre alguns setores como o de calçados, da demanda saciada por alguns bens duráveis e da recuperação ainda lenta do rendimento médio do brasileiro.