Título: Fim da verticalização compromete palanque de Lula em Minas Gerais
Autor: Maria Lúcia Delgado e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2005, Política, p. A6

A equação para reeleger Lula no primeiro turno, em 2006, passa pela formação de uma chapa forte em Minas. No segundo maior colégio eleitoral do país, o presidente teve 53,01% dos votos no primeiro turno e 66,45%, no segundo. Dificilmente repetirá esse desempenho se não trincar o amplo leque de apoio partidário sob o qual se abriga o governador Aécio Neves, hoje franco favorito à disputa. Para isso, Lula precisa manter a verticalização, instrumento que lhe possibilitaria montar um palanque poderoso com nomes do porte do vice José Alencar (PL), os ministros Walfrido Mares Guia (PTB) e Patrus Ananias (PT), o ex-presidente Itamar Franco (PMDB) e o prefeito petista de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. "Minha opção pessoal é não fragmentar. Se vamos enfrentar o governador, vai ser uma disputa difícil. Temos que sair unificados. O melhor nome seria de José Alencar", defende Pimentel. Aécio tem um pé no plano nacional, mas trabalha 24 horas como quem é candidato à reeleição. O governador Geraldo Alckmin, no momento, tem precedência sobre ele no PSDB para a candidatura presidencial. O governador mineiro, por exemplo, reverteu a posição favorável dos tucanos à verticalização das eleições, o mecanismo pelo qual partidos com candidatos a presidente não podem se coligar nas eleições para governador. Em Minas, só o PT e o PC do B não integram o arco de alianças do governador. Recentemente, Aécio teve um encontro secreto com José Alencar. Saiu da conversa com a sensação de que o vice se contentaria com uma candidatura ao Senado. O governador teve conversa parecida com o embaixador Itamar Franco, em Roma, que sonha com uma volta ao Senado, posto também cobiçado por Clésio Andrade, o vice de Aécio. Embora tenha sinalizado a Aécio que pode aceitar concorrer à única vaga ao Senado em disputa, a candidatura Alencar ao governo é o ponto central das discussões em Minas e em Brasília. Para o PL, o vice diz que é uma questão em aberto. Para continuar como vice de Lula, costuma repetir, precisa de um convite do presidente. Se o convite for feito, acrescenta, é dele a prerrogativa de de aceitar ou optar por disputar o governo de Minas a cadeira do Senado. Como bom mineiro, trata de não fechar portas antes do tempo. O favoritismo Aécio é evidente. O governador supera 60% das intenções de votos em todas as pesquisas recentes feitas pelos partidos. As análises mais realistas mostram que só a aliança PL-PT-PTB, com eventual aval de Itamar Franco, cujo PMDB reluta entre Aécio, Alencar e uma candidatura própria, poderia levar a disputa ao segundo turno. A complexidade aumenta quando se consideram as relações cordiais entre Aécio Neves e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, um dos principais expoentes do PT no Estado. Soma-se a isso a figura controvertida e instável de Itamar Franco, que pode ou não disputar o Senado, pode ou não apoiar o antigo companheiro José Alencar - com quem já se estremeceu ao longo da história. O próprio Aécio revela-se inseguro sobre o comportamento de Itamar em eventual segundo turno. O presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), aposta na formação de uma ampla aliança para reeleger Aécio. Admite, no entanto, que muita água vai correr por debaixo da ponte, e que não se pode desprezar o fato de o governador ser um dos nomes do partido para a sucessão presidencial. "É claro que os Estado são importantes para o jogo nacional. O PSDB tem oito governos e quer ampliar, mas a presidência da República sempre é o objetivo maior", explica o senador. Azeredo reconhece que a candidatura Alencar é expressiva. "José Alencar é um nome que todos nós respeitamos", lembra o tucano, que contou com o apoio do vice-presidente em 1994, quando venceu a disputa ao governo. O apoio do PMDB a Aécio Neves seria um complicador. Eduardo Azeredo tem péssimas relações com Itamar Franco, mas evita fazer qualquer comentário sobre o ex-presidente. Eventual candidato do PMDB ao governo de Minas, o senador Hélio Costa, já procurou Aécio Neves e, reservadamente, avisou ao tucano que não disputa se ele for mesmo para a reeleição. "Se o presidente Lula acena com uma composição nacional com o PMDB, isso terá reflexos em Minas. Se não houver uma aliança com Lula, ficaremos presa fácil do PSDB", diz Hélio Costa. Diante da força da candidatura de Aécio Neves, o prefeito Fernando Pimentel acha que a melhor opção para o PT é apoiar José Alencar. Como vice-governador, o partido apresentaria o nome do hoje ministro Nilmário Miranda. Como faz parte da história petista, uma ala do partido defende a todo custo a candidatura própria, ou de Nilmário ou de Patrus Ananias, para que somente num segundo turno PT e PL estejam juntos. A cúpula do PT de Minas considera que Alencar é o único nome que dividiria a elite e o empresariado mineiros, hoje totalmente acoplados a Aécio Neves. Pimentel ressalta que a sucessão em Minas é secundária. O objetivo principal do PT é a reeleição de Lula. Além disso, o prefeito afirma que o PT deve muito a José Alencar, pois foi graças à adesão dele na campanha de Lula que as resistências do empresariado foram quebradas. O favoritismo de Aécio na disputa, observa o prefeito petista, não o torna imbatível. Pimentel também reconhece que a disputa entre PT e PSDB em Minas terá um tom totalmente civilizado. " Tenho com o governador uma relação cordial sob o ponto de vista administrativo, mas na eleição vamos estar em campos distintos. Como prefeito, não vou ter críticas a fazer ao governador. Ele é muito correto com a cidade. No campo institucional a disputa será civilizada", disse o petista. E Itamar Franco? "Para o lado que ele for, certamente será um aliado de peso. Todo mundo em Minas quer Itamar a seu lado. Me sentiria muito honrado se ele ficasse conosco".