Título: Governadores protestam contra União
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2005, Política, p. A6

Um dos possíveis rivais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2006, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), criticou ontem o aumento da taxa básica de juros de 19,25% para 19,5% e acusou o governo federal de não honrar sua maior promessa, a geração de emprego. "Isso mostra que a prioridade do governo Lula não é emprego e renda", alfinetou, em Ouro Preto, durante a comemoração do Dia de Tiradentes. A solenidade foi palco para cobranças por parte de Alckmin e outros quatro colegas governadores: do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), do Pará, Simão Jatene (PSDB), do Tocantins, Marcelo Miranda (sem partido) e de Minas, Aécio Neves (PSDB). O recado foi para os dois representantes da Palácio do Planalto que ocupavam o mesmo palco, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci . Os governadores e os ministros estavam entre os homenageados com a Medalha da Inconfidência, comenda do governo estadual. "São Paulo é fortemente exportador e tem grande peso nas exportações brasileiras, mas não é problema só para São Paulo é para o Brasil", afirmou Alckmin. Rigotto disse que a decisão está fora de contexto. "Até pelos acertos da área econômica lá atrás, foi um equívoco", comentou Rigotto. "Era possível ser menos duro", completou Jatene. O anfitrião não reclamou dos juros, mas aproveitou a solenidade para mais repetir seu discurso contra a concentração de receitas nas mãos da União e em defesa de um novo pacto federativo. "Se o Brasil é hoje livre, nós devemos muito aos exemplos da luta de Tiradentes. Se somos uma democracia consolidada, devemos a Tancredo, a Ulisses (Guimarães) e tantos outros brasileiros. A nossa geração tem outro grande desafio: repactuar a federação, reequilibrar os municípios e os Estados, para que cada um possa cumprir com maior eficiência seus compromissos para com a sociedade", declarou Aécio. "Isso não é contra a União, é a favor do Brasil e deve ser compreendido assim pelos integrantes do governo federal que aqui estão." Em sintonia com o mineiro, os outros quatro governadores também reclamaram da concentração de receitas e cobraram uma reforma. "Não dá para imaginar que se vai encontrar qualquer solução (para o país), sem discutir gastos e receitas", declarou Jatene. Segundo Rigotto, o receio de perder receitas faz o governo federal evitar o avanço da reforma tributária. "O que teríamos de ter é reforma fiscal, discutir receita e despesa", completou Geraldo Alckmin. "Mas nem reforma tributária vamos ter, o que poderemos ter é reforma do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)." Palocci e Dulci não fizeram qualquer declaração pública durante a solenidade. Escoltados por seguranças, deixaram Ouro Preto sem falar com a imprensa. Mas seguiram na mesma van ocupada por Aécio e os demais governadores. Militante da Liga Operária, a professora Liliane Morais tentou entregar a Palocci a "Medalha Companheiro Joaquim Silvério dos Reis", de mérito à traição. Segundo ela, a medalha seria entregue a Palocci, que era representante do presidente Lula na solenidade. A professora foi afastada pelos. Faixas de protesto assinadas por movimentos como o da Liga Operária e da Força Sindical acusavam Lula de traidor. Professores estaduais protestaram contra o choque de gestão de Aécio Neves, cobrando aumento salarial.