Título: Governo define até o fim do ano a construção da usina de Angra 3
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Brasil, p. A-2
O governo define nos próximos 30 ou 60 dias se serão retomadas as obras da usina de Angra 3. Neste prazo serão concluídos os trabalhos do grupo criado para discutir a viabilidade da usina, informou ontem o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Ele participou do seminário "Indústria do Plástico - Os Caminhos para Crescer e Conquistar Mercados", promovido pelo Valor . Essa comissão é liderada pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, segundo Campos. Ele disse ainda que dentro de um ou dois meses deverá haver não somente uma conclusão sobre se a usina será levada adiante ou não como "uma possível modelagem" da sua construção. Faltam a conclusão do estudo de viabilidade econômico-financeira do empreendimento e a aprovação ambiental do projeto, pelo Ministério do Meio Ambiente. Outro aspecto sensível já foi solucionado: a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) aprovou o projeto de estocagem e tratamento dos resíduos produzidos pela usina. A decisão agora seria política. O ministro espera ter até o fim do ano completo no país o ciclo nuclear, com o enriquecimento do urânio. "É uma tecnologia que apenas seis países no mundo possuem, e podemos ser um deles. É um programa pacífico e com compromisso". Para viabilizar economicamente a indústria nuclear nacional seria necessária a construção de Angra 3. A obra para construção da terceira usina nuclear, cujo projeto é idêntico ao de Angra 2, deveria ter começado no início da década de 1980. Na época, foram investidos US$ 750 milhões em equipamentos e na preparação do terreno que receberia a usina. O trabalho foi interrompido na primeira metade da década de 1990. Para a sua conclusão, seriam necessários outro US$ 1,75 bilhão, segundo o ministro. Por conta da paralisação, a Eletronuclear mantêm armazenado todo o equipamento adquirido há quase vinte anos. O armazenamento e a conservação do material custam US$ 20 milhões por ano aos cofres públicos, e o cancelamento dos contratos firmados para a execução das obras custaria mais US$ 60 milhões em multas rescisórias. Sobre a polêmica em torno das inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na planta de enriquecimento de urânio que o país está construindo em Resende (RJ), o ministro disse que o Brasil "tem todo o interesse em ajudar o trabalho da agência" e "tem enorme cooperação com a instituição". Uma equipe de inspetores da AIEA virá ao Brasil na semana que vem para discutir detalhes das inspeções. Segundo Campos, é possível que se chegue a um acordo definitivo sobre o tema após essas conversas.