Título: Poupança bate recorde
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2010, Economia, p. 11

Depósitos feitos na caderneta em janeiro e fevereiro superaram os saques em R$ 4,947 bilhões, saldo 1.768% maior que o computado em igual período de 2009

Os investidores da poupança são muito conservadores, preferem garantir um rendimento menor do que assumirem riscos em outras aplicações¿ Demétrius Borel Lucindo, economista

O aumento do emprego e da renda está permitindo aos brasileiros economizar cada vez mais recursos pensando no futuro, visando à compra da casa própria, à universidade dos filhos ou mesmo à aposentadoria. Somente nos dois primeiros meses deste ano, os depósitos na caderneta de poupança superaram os saques em R$ 4,947 bilhões, saldo 1.768% maior do que o registrado no mesmo período de 2009 (R$ 264,7 milhões), quando o país ainda sentia o peso da crise mundial. No mês passado, especificamente, a captação líquida da caderneta totalizou R$ 2,619 bilhões. Foi o melhor fevereiro desde 1995, início da série histórica do Banco Central.

Para comprovar o impacto do emprego e da renda na vida financeira dos brasileiros, o gerente da BRB DTVM, Vasco Cunha Gonçalves, garantiu que o crescimento dos depósitos da poupança não decorreu da migração de recursos de outras aplicações. Tanto que os fundos de investimentos contabilizaram, em fevereiro, ingresso líquido de R$ 8,804 bilhões, três vezes mais do que em igual período de 2009 (R$ 2,826 bilhões). No primeiro bimestre, as aplicações nos fundos superaram os saques em R$ 13,888 bilhões, volume 279% acima do computado nos dois primeiros meses do ano passado (R$ 3,655 bilhões).

¿A maior capacidade dos brasileiros em acumular poupança tem a ver com a substancial melhora da economia. Os índices de desemprego estão em queda e a média salarial, em alta. Além disso, há o benefício do controle da inflação¿, destacou Vasco. Para ele, a tendência é de tanto os depósitos na caderneta quanto em fundos continuarem crescentes, já que tudo aponta para forte aquecimento da economia.

Milionários

Na avaliação do economista Demétrius Borel Lucindo, mesmo que se confirme o aumento da taxa básica de juros (Selic) a partir deste mês, não haverá um esvaziamento da caderneta, com os recursos migrando para os fundos de investimento. ¿Temos de levar em consideração que os investidores da poupança são muito conservadores, preferem garantir um rendimento menor do que assumirem riscos em outras aplicações¿, destacou. Esse pensamento, segundo ele, consolidou-se depois da crise mundial.

Os investidores também estão mais seguros em relação à caderneta, mesmo com os ganhos médio de 0,55% ao mês tendo ficado abaixo da inflação nos dois primeiros meses deste ano, porque o governo desistiu de taxar os ganhos daqueles que têm depósitos superiores a R$ 50 mil. Em 2009, por sinal, aumentou em 30% o número de depositantes da poupança com saldo superior a R$ 1 milhão em suas contas. Foram registrados 4.980 milionários contra 3.822 em 2008. ¿Certamente, esse grupo de pessoas continuará crescendo¿, ressaltou Lucindo. Ou seja, haverá mais dinheiro para o financiamento da casa própria, já que a caderneta é uma das principais fontes de recursos para os empréstimos imobiliários.

Os analistas lembraram que, independentemente da alta dos juros, a taxa de administração cobrada pelos bancos continuará sendo determinante para a escolha entre a caderneta e os fundos de investimento. Como a poupança é isenta dessa taxa, qualquer cobrança acima de 1,5% torna os fundos menos atraentes. Apesar da ressalva, os fundos de renda fixa receberam, pelas contas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), aplicações líquidas de R$ 3,108 bilhões em fevereiro. Já nos fundos DI os depósitos superaram os saques em R$ 888,5 milhões.

O número R$ 2,619 bilhões Captação líquida na poupança em fevereiro, o melhor resultado desde 1995