Título: Contexto
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2005, Internacional, p. A8

Lúcio Gutiérrez ficou apenas dois anos e três meses na Presidência do Equador antes de ser afastado, assim como dois de seus sucessores em menos de dez anos. Gutiérrez foi eleito em 24 de novembro de 2002 e tomou posse em 15 de janeiro de 2003. Em janeiro de 2000, ele foi um dos cabeças da revolta contra Jamil Mahuad, ex-prefeito de Quito que assumira a Presidência prometendo sanear a economia do país e entrar num acordo de paz com o Peru. Depois de dolarizar o país, escândalos financeiros e a crescente crise econômica levaram milhares de manifestantes de origem indígena a marchar para Quito, invadir o Congresso e declarar um novo governo. Apesar de ser apontado como presidente pela "junta revolucionária" que representava a revolta indígena daquele ano, a elite equatoriana chegou a um consenso de dar posse ao vice de Mahuad, cooptando os militares e esvaziando a "revolução popular". Antes de Mahuad, o presidente Abdala Bucarám, conhecido pela alcunha de "El Loco", já tinha sido afastado pelo Congresso em 1997, por "incapacidade mental". O presidente do Congresso, Fabián Alarcón, foi aos trancos e barrancos como presidente até a eleição de Mahuad, em 1999. Quando Lúcio Gutiérrez foi eleito pelo voto direto, achava-se que ele repetiria o fenômeno Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, ficando no poder apoiado por uma massa popular extremamente fiel. No entanto, a turbulência política no governo Gutiérrez começou seis meses após sua posse com a destituição dos ministros do partido indígena Pachacutik, o que resultou na ruptura da aliança governista. A partir daí, o presidente teve que enfrentar uma dura oposição no Congresso, onde seu partido só contava com sete dos cem parlamentares, aos seus projetos de privatização do setor petrolífero e elétrico e de reformas institucionais e na previdência social equatoriana.