Título: Rendimento pode recuar até 20% na safra 2005/06
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2005, Empresas &, p. B8

Mais importante fator para medir o desempenho das lavouras, a crescente produtividade agrícola está ameaçada pela manifesta intenção dos produtores em frear investimentos na adubação e correção dos solos na próxima safra. A julgar pelo ânimo dos produtores, tudo aponta para uma queda entre 10% e 20% na produtividade média da temporada 2005/2006, segundo estudos encomendados por produtores de Mato Grosso. "O tombo deste ano acendeu a luz vermelha para os investimentos", resume o produtor Álvaro Salles, que planta 10 mil hectares em Rondonópolis e Campo Verde. Segundo ele, é possível reduzir os custos em 25% apenas com o uso racional da adubação. "Produzo cinco sacas a menos por hectare, mas economizo 13 sacas em adubos", calcula. Resultado: lucro de oito sacas, o que faz toda a diferença em épocas de margens apertadas. Marcada pela explosão nos custos de produção no Centro-Oeste e pelo desastre climático no Sul, a atual safra golpeou a renda dos produtores. Motivos? O nó cambial de um real cada vez mais forte frente ao dólar, o descasamento entre ativos e passivos dolarizados, o aumento dos insumos e os gastos adicionais provocados por doenças como a ferrugem asiática da soja e as pragas do algodão. Nas rodas de conversa da Agrishow Cerrado, que termina amanhã em Rondonópolis, produtores apostam na racionalização do uso de fertilizantes e, sobretudo, na contenção dos gastos com máquinas - as vendas de tratores (-20%) e de colheitadeiras (-50%) devem ser muito menores do que em 2004. Os produtores também apostam numa corrida por sementes transgênicas de soja e algodão para diminuir custos na próxima safra. "Sai 30% mais barato", diz Paulo Ramos, produtor de Canarana (MT). "Mas a saca do produto tende a encarecer com a liberação pelo governo. E os royalties podem levar parte dessa redução", alerta. Mas reduzir investimentos poderia abater a produtividade e forçar uma nova queda da rentabilidade do campo em 2006. Por isso, os produtores contam com uma espécie de "poupança" depositada na terra. "Os solos receberam bastante adubo e calcário nas últimas safras", diz Ricardo Silva, produtor em Campo Novo do Parecis (MT). Além disso, a ferrugem não atingiu todas as regiões com a mesma intensidade. Assim, seria possível absorver os custos adicionais de combate à doença. Como alento, o produtor Adilton Sachetti, que planta 12 mil hectares de soja e algodão em Sapezal (MT), diz que os ciclos agrícolas costumam durar três anos. "Não há mal que sempre dure", repete. Mas, reconhece, a pressão desta vez está no lado dos custos e não dos preços. Na quarta-feira, o IBGE divulgou que a safra de grãos em 2005 deve ser de 119,488 milhões de toneladas, apenas 0,1% maior que no ano anterior. Devido à seca, o Sul perdeu o posto principal região de produção do país. Agora, o Centro-Oeste está em primeiro lugar, com 37,89% do total. O Sul ficou com 34,3%. (MZ)