Título: Grandes bancos já ocupam o espaço aberto pelos médios
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2005, Finanças, p. C1

O posicionamento dos bancos no crédito à pessoa jurídica sofreu algumas mudanças depois da intervenção do Banco Central no Banco Santos, em novembro de 2004. Bancos grandes como Real, BankBoston e HSBC estão disputando com mais afinco e ocupando espaços deixados por pequenas e médias instituições financeiras no empréstimo a empresas pequenas e médias, o chamado "middle market", atestam executivos de bancos menores. Dessa forma, o volume de empréstimos às empresas continuou crescendo - embora bem menos que para pessoas físicas - e os "spreads" se mantiveram, apesar do repasse de custos com a alta da taxa básica de juros, a Selic. Em março houve até uma queda nas taxas, comparado a fevereiro, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). De acordo com o último relatório do BC, os empréstimos às pessoas jurídicas com recursos livres dos bancos totalizaram R$ 163,7 bilhões em fevereiro, com expansão de 2% no mês. Dentro deste total, os empréstimos nas principais linhas de curto prazo (conta garantida e capital de giro), especialmente nos segmentos de serviços, automotivo e geração de energia, cresceram 2,5% e 2,6%, respectivamente. Assustados com a intervenção no Santos, investidores suspenderam aplicações em CDB e RDB de bancos médios, provocando uma forte restrição liquidez em todo o sistema. Para completar o quadro, o BNDES suspendeu repasses de linhas de financiamento de longo prazo para bancos de menor porte, em razão de perdas que sofreu com o Santos.

A crise já foi debelada, segundo executivos de várias instituições ouvidas pelo Valor. Porém, é lenta a recuperação da captação dos bancos médios. A saída para alguns como o BMC e Pine, foi investir no empréstimo com desconto em folha para aposentados, operação que tem tido enorme demanda nos últimos meses. "O empréstimo para aposentados é hoje a maior produção da nossa carteira", afirma Andrea Pinheiro, vice-presidente do BMC. Em dezembro, o BMC firmou um acordo com o Bradesco para ceder toda a produção em crédito consignado para aposentados, no valor de R$ 2 bilhões pelos próximos três anos. Com isso, o banco garante rentabilidade sem comprometer seu balanço com um volume maior de empréstimos. A carteira de ativos em crédito para empresas, que sempre foi o forte do BMC, está estabilizada à espera de melhores condições de captação. "Acreditamos que a média empresa é o nicho mais adequado para bancos de médio porte e queremos voltar a investir nesse nicho, em que temos vantagens competitivas", afirmou a executiva. "Há uma mudança de competidores. Muitos bancos de 'middle market' revisaram sua estratégia, houve redução de oferta e outros bancos estão entrando ou aumentando sua participação", analisa Maércio Soncini, diretor comercial do Banco Fibra. Soncini afirma que houve um crescimento de R$ 130 milhões na carteira de empréstimos para empresas no Fibra em março, mas diz que é difícil identificar se isso se deve à um aquecimento da economia ou à retração de outros bancos. O Fibra e o Rural são dois dos bancos médios que mantiveram o foco no financiamento de empresas, apesar das condições adversas de captação para os bancos desse porte nos últimos seis meses. "Nossa carteira de pessoa jurídica está crescendo bastante nas pequenas e médias. Nas grandes houve uma certa estabilização, até porque os grandes projetos de investimentos ainda não aconteceram", confirma Paulo Maia, diretor executivo do HSBC. Um obstáculo ao avanço dos bancos é a alta da taxa de juros básica, a Selic, que já está em 19,5% ao ano. "É um inibidor", diz Sergio Constantine, responsável pela área de Gestão de Produtos para Pessoas Jurídicas do Banco Real. Mesmo assim, o Real tem investido em produtos que aproveitem a tecnologia de gestão de performance dos recebíveis das empresas para ampliar a carteira - Constantini não podia revelar a posição dos ativos do Real porque o banco está em um período de "silêncio" às vésperas de divulgar seu balanço.