Título: BC não dá garantia de fim do ciclo de aperto
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 22/04/2005, Finanças, p. C1

Não há garantia alguma de que o aperto monetário iniciado em setembro de 2004 terminou na quarta-feria com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa Selic de 19,25% para 19,50%. A oitava alta consecutiva do juro básico foi feita com a mesma intensidade da primeira, 0,25 ponto percentual. Entre uma e outra, seis altas de 0,50 ponto. O raciocínio de que o BC já concluiu o arrocho necessário para trazer a inflação às suas metas de inflação de longo prazo, uma vez que fechou o ciclo com alta idêntica ao do início, é simplista. Por algumas razões lembradas por analistas. A mais visível é que o Copom não alterou em nada, exceto pelo juro nominal em si, o comunicado utilizado nas últimas seis reuniões: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica, iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 19,50% ao ano, sem viés".

O segundo motivo é que o BC está sendo, como os economistas em geral, colhido de surpresa quase diariamente pela dinâmica inesperada da inflação e dos mercados externos. Está tendo de decidir no calor da hora, em cima dos fatos mais recentes, supostamente contra a sua própria vontade. A despeito do arrocho monetário de 3,5 ponto percentuais desde setembro, a inflação corrente informada pelo IPC Fipe e pelos IGPs ronda o 1% ao mês. Os indicadores respondem a pressões de preços administrados e de choques, sobretudo o agrícola, imunes aos efeitos do juro alto. Então por que subir o juro? Para evitar que as expectativas sofram contaminação do repique e acabem deteriorando o atual cenário róseo desenhado para 2006. A terceira razão é que a volatilidade internacional e os choques internos retiram a possibilidade de o BC sinalizar o que irá fazer no futuro - por meio de atos (alta menor da Selic), atas (a de março expôs incontroversa intenção de suspender o aperto já agora em abril) e documentos técnicos (como o último relatório trimestral de inflação). Dependendo desses fatores, o BC poderá tanto manter a Selic em 19,50% quanto aumentá-la para 19,75% ou 20%. A política monetária está refém dos fatos. O economista-chefe do ABN AMRO Real, Mário Mesquita, diz que a alta de 0,25 ponto não foi inteiramente inesperada, embora sua previsão fosse de manutenção da Selic. "Foi uma elevação de resseguro, destinada a evitar que o repique da inflação corrente contagiasse as expectativas de inflação", observou Mesquita. A decisão do Copom de prosseguir no aperto monetário foi tomada em um dia particulamente ruim no mercado financeiro, marcado por números mais altos de inflação nos EUA e no Brasil, avanços nos juros internacionais e domésticos e elevação do petróleo. Mas, como o cenário básico com o qual trabalha o BC é benigno, a esperança é de que a alta de abril seja a última do ciclo de aperto. "O mercado terá pistas mais precisas na ata, mas nenhum banco central telegrafa 100% o que fará na próxima reunião", diz o economista. Para o economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes, a opção do BC pela continuidade do aperto foi um meio-termo entre a sua vontade de interrompê-lo, já manifestada na ata de março, e a necessidade de sinalizar ao mercado o não abandono da meta ajustada de inflação para este ano, de 5,1%. Mas, do ponto de vista explícito do combate à inflação, tanto faz uma Selic de 19,25% quanto de 19,.50%. Dada a inércia inflacionária, os choques de oferta e o contágio já exibido pelos preços industriais, para conduzir a inflação à meta, o BC teria de elevar o juro imediatamente para a faixa de 22%. "E isso ele não fará", acredita Lopes.