Título: Vendas da indústria voltam a crescer em agosto, diz CNI
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Brasil, p. A-4
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) detectou o impacto do crescimento econômico em todas as variáveis de seus indicadores industriais no mês de agosto. Segundo relatório divulgado ontem, a utilização da capacidade instalada na indústria chegou ao patamar recorde de toda a série histórica, iniciada em 1992, e bateu os 83,3% no índice dessazonalizado. Em relação a agosto de 2003, as vendas reais cresceram 20,17%; o pessoal empregado no setor aumentou 5,18%; as horas trabalhadas na produção subiram 10,70%; e os salários líquidos reais ficaram 9,98% maiores. Sobre julho, o crescimento real das vendas foi de 1,26% e das horas trabalhadas, de 1,66%. Em julho em relação a junho, as vendas tinham caído 4,12%. Esse conjunto de fatores, na avaliação do chefe do Departamento Econômico da CNI, Flávio Castelo Branco, mostra mais do que a superação do nível perdido no ano passado: "Já estamos expandindo", afirmou.
O nível de utilização da capacidade instalada em agosto, na avaliação do coordenador da pesquisa, ainda não afeta a capacidade de oferta em 2004. Para o ano que vem, no entanto, o economista alerta para a necessidade de um volume de investimentos superior a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) para que a demanda seja atendida em um ambiente de crescimento econômico superior a 4%. "Para 2005, nós obviamente precisamos de mais investimentos para a oferta não ser comprometida". O nível de investimento na economia brasileira chegou a 18,9% no primeiro semestre deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a maior taxa registrada desde 2001 e representa o quanto da riqueza produzida foi revertida para ampliar o potencial de produção. Apesar de não considerar a possibilidade de problemas na oferta neste ano, a CNI detectou que há pelo menos três segmentos com níveis limítrofes de utilização da capacidade instalada: máquinas e equipamentos; têxtil; e madeira. Castelo Branco considera que a decisão de investir por parte dos empresários depende de pelo menos três fatores: grau de confiança na economia; análise do mercado; e o custo financeiro e de produção. Ele entende que o governo está fazendo um "esforço" para reduzir esses custos, mas ainda há "um longo caminho a percorrer, pois as taxas de juros ainda são muito elevadas". O coordenador da CNI lembrou ainda que o crescimento da industrial brasileiro, iniciado em julho do ano passado, há alguns meses não vem só das exportações, mas também do mercado interno. Esse fenômeno dá mais consistência ao crescimento da economia e acaba "retroalimentando" o bom desempenho da indústria. "O aumento da renda dá maior poder de compra aos trabalhadores e cria novas demandas - favorecendo a expansão da indústria", explicou. A CNI projeta um crescimento industrial superior a 6% neste ano. Apesar dos bons indicadores, Castelo Branco alerta para o risco que pode representar o aumento nos preços internacionais do petróleo. "Isso pode afetar a economia não só brasileira, mas mundial", frisou. "Mas essa é uma crise diferente das crises do petróleo anteriores, porque a elevação dos preços está sendo mais suave e tem componentes especulativos", ponderou.