Título: Crescimento de importações perde fôlego em abril
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2005, Brasil, p. A3

A queda do dólar não incentivou um aumento das importações brasileiras no primeiro trimestre. Pelo contrário. O ritmo de crescimento das importações deu sinais de perda de fôlego, tendência que aparece claramente nas compras externas de matérias-primas e bens intermediários, insumos para a produção industrial. Para os economistas, esse é mais um indício da acomodação da atividade econômica neste início de ano e também um reflexo das perdas da agricultura. Cálculos do J.P Morgan demonstram que a média diária das compras externas brasileiras, livre de efeitos sazonais, ficou em US$ 275 milhões no primeiro trimestre do ano, mesmo nível registrado entre outubro e dezembro de 2004. Nas três primeiras semanas de abril deste ano, o valor caiu para US$ 267 milhões. Esse indicador subia consistentemente desde o quarto trimestre de 2003, quando estava em US$ 199 milhões. Levantamento da MCM Consultores aponta que a quantidade importada de bens intermediários está em queda. Na média móvel trimestral sem distorções sazonais, o volume de compras externas desses itens cresceu 2,7% em dezembro, 1,8% em janeiro e caiu 1,1% em fevereiro. O cálculo foi feito a partir dos dados de quantum da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). As importações de outras categorias de produtos também estão se desacelerando, mas não chegam a registrar baixa. A média móvel trimestral do quantum de compras externas de bens de capital subiu 5% em dezembro, 4% em janeiro e 2,4% em fevereiro. Nos bens duráveis, foi registrada alta de 4,5% em dezembro, 3,3% em janeiro e 0,3% em fevereiro. "É possível que a atividade esteja mais fraca do que se imaginava e o comportamento da importação ilustra isso", diz Júlio Callegari, economista do banco J.P. Morgan. "Estamos colecionando indicadores que sugerem que a economia está se recuperando de forma mais lenta", afirma Celso Toledo, economista-chefe da MCM Consultores. Foto: Marisa Calduro/Valor

Adalgiso Telles: importações de fertilizantes devem cair 10% este ano em relação às 14,7 milhões de toneladas de 2004

Segundo Alexandrino de Alencar, vice-presidente de relações institucionais da Braskem, as importações brasileiras de resinas termoplásticas aumentaram 4%, mas o consumo aparente desse produto subiu 8% e a produção nacional, 9%. A Braskem é produtora de resinas termoplásticas, matéria-prima para objetos plásticos. Ele acredita que, em vez de impulsionar, o dólar dificulta as importações. "Ninguém quer correr o risco, porque não sabe para onde vai o dólar", diz. Já o volume de importações de nafta petroquímica realizadas pela Braskem aumentou 20% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2004. Alencar ressalta, no entanto, que a base de comparação de 2004 é fraca. "O cenário está confuso. A economia dá sinais desencontrados sobre seu desempenho", diz. As importações brasileiras subiram 23,2% no primeiro trimestre do ano ante igual período em 2004. Apesar de significativo, o aumento é menor dos que os 30% registrados nos últimos três meses de 2004 diante de igual período de 2003. Na época, os analistas e o governo acreditavam que as importações passariam a crescer mais que as exportações, que haviam aumentado 30%. A previsão não se confirmou. As vendas externas mantiveram o fôlego e subiram 27,8% no primeiro trimestre, enquanto as importações se desaceleraram. Também havia a expectativa de que as vendas de setores ligados ao mercado interno puxariam as importações. No entanto, as operações de drawback, que representam insumos importados por empresas exportadoras, responderam por 10% das importações brasileiras no primeiro bimestre, mesmo nível registrado em janeiro e fevereiro de 2004. Toledo, da MCM, cita três fatores que estão prejudicando o crescimento das importações: o desaquecimento da economia; a maior tributação sobre as compras externas, com o início da incidência de PIS e Cofins; e o nível do câmbio. "Não dá para afirmar que o dólar está desvalorizado a ponto de estimular a substituição de importações", acredita. O real se valorizou 2,78% ante o dólar desde o início do ano. Em relação ao início de 2004, a alta chega a 11,9%. Callegari, do J.P. Morgan, explica que a crise no campo também está afetando o desempenho das importações. Com a queda dos preços internacionais de commodities como a soja e a quebra da safra por conta da seca que afetou o Rio Grande do Sul, a renda agrícola caiu e o produtor está investindo menos na lavoura. Esse fenômeno impacta em cheio a importação de fertilizantes e de máquinas agrícolas. Segundo Adalgiso Telles, diretor de comunicação da Bunge Fertilizantes, as importações de fertilizantes do país devem cair 10% em 2005, comparadas às 14,7 milhões de toneladas adquiridas em 2004. O produtor está investindo menos na lavoura por causa dos prejuízos. E, além disso, o país virou o ano com estoque do produto, pois o consumo em 2004 foi menor que o previsto. Telles explica que o produtor está adiando as compras de fertilizantes e, por isso, as importações realizadas pelas empresas também estão atrasadas. Para o executivo, a desvalorização do dólar, em vez de ajudar, atrapalha o desempenho das companhias de fertilizantes. Apesar de reduzir o custo das importações, o dólar mais baixo comprime a renda do produtor. Com menos dinheiro do bolso, o produtor compra menos fertilizantes. Fernando Ribeiro, economista da Funcex, comenta que os agentes do mercado tinham uma percepção errada de que as importações explodiriam como no início do Plano Real por conta do crescimento da economia e da valorização do real. "Mas hoje as circunstâncias são diferentes. As empresas instaladas no Brasil têm muito mais condições de competir", diz. Na sua avaliação, as importações estabilizaram-se em um nível muito alto. Ele acredita que a tendência natural é de acomodação. Se a alta de 4% prevista para o Produto Interno Bruto (PIB) se confirmar, é provável que as importações não mantenham o crescimento de volume de 20%, mas subam algo entre 12% e 15%. José Roberto Campos, vice-presidente-executivo da Samsung, relata que as vendas da empresa "deram uma parada" em janeiro e fevereiro, mas estão retomando o vigor em março. As importações da companhia vão no mesmo ritmo, já que muitos componentes são importados e 90% de sua produção é voltada para o mercado interno. A empresa está comemorando a valorização do real. "O dólar mais baixo torna o produto final mais competitivo", diz.