Título: "O PT é melhor de propaganda que o PSDB", diz presidente tucano
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2005, Política, p. A13

Ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-governador de Minas Gerais, o senador Eduardo Azeredo assumiu a presidência do PSDB no início do ano depois que José Serra foi eleito prefeito de São Paulo. O nome do mineiro não agradou a muitos tucanos, especialmente de São Paulo, mas não pôde ser derrubado. Era uma questão estatutária. Como vice-presidente, o senador era o substituto natural. No exercício da função, ele é criticado por uma ala do partido que quer mais agressividade para capitalizar os deslizes do PT no governo federal. Eduardo Azeredo dá pouca importância ao veneno de colegas e diz que se manterá fiel ao estilo mineiríssimo - "discreto, de quem pensa antes de agir". Para o senador, a oposição com barulho já vem sendo bem exercida pelas lideranças do PSDB no Senado e na Câmara e não é mesmo papel para o presidente da legenda. Em entrevista ao Valor, o senador, que tem imagem de bom gerente no seu reduto eleitoral, diz que falta mais poder de comunicação ao PSDB para divulgar o sucesso das próprias administrações. "O PT é muito melhor de propaganda", afirmou. A seguir, trechos da entrevista. Valor: A articulação em torno da PEC dos senadores vitalícios visou a retirar o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso do páreo de 2006? Eduardo Azeredo: Sou favorável à possibilidade de se aproveitar a experiência dos presidentes da República. A Itália é um exemplo. Mas, do ponto de vista legal, uma coisa não inviabiliza a outra. O presidente FHC é um dos nomes que o PSDB tem. Mas ele mesmo tem se colocado numa posição mais de retaguarda. O mais provável é que a candidatura saia por outros nomes. Valor: O do governador Geraldo Alckmin? Azeredo Eu diria que os dois governadores dos dois Estados mais importantes - Alckmin (SP), e Aécio Neves (MG) são dois nomes. Mas não podemos esquecer ainda do Tasso Jeireissatti, que foi governador do Ceará três vezes, e o próprio José Serra, prefeito de São Paulo. Valor: Esse empenho em lembrar que existem outros nomes é algum resquício da rixa entre mineiros e paulistas dentro do PSDB? Azeredo: O Alckmin é um paulista-mineiro, tem origens em Minas Gerais e um estilo discreto com os mineiros. O nome dele é um dos mais fortes sim. E, no caso dele, não existe nenhuma rixa não. Até pelas características de um paulista amineirado. Valor: De resto, continua a luta do PSDB de Minas para que as lideranças paulistas não sejam as únicas a ter voz no partido? Azeredo: Enquanto houver um Estado muito poderoso economicamente como São Paulo, sempre vai existir algum receio de que essa predominância econômica se transforme em predominância política. Também é assim no PT. Valor: Um dos fundadores do PSDB em Minas, o João Batista Mares Guia, que está voltando agora para o PT, acusa o diretório mineiro de não saber capitalizar o sucesso das administrações estaduais que faz. O senhor concorda? Azeredo: Ele fez uma crítica histórica e não do cenário atual. Disse que o PSDB, apesar de fazer boas administrações, não fez ´essa´ propaganda. É verdade. O PT é muito melhor de propaganda. Ele não tem o mesmo sucesso que o PSDB tem nas administrações e faz uma propaganda muito grande. O PSDB é ruim de propaganda, essa é uma crítica correta. Valor: O PSDB precisa aprender marketing eleitoral com o PT? Azeredo : Não, porque o marketing do PT é o que ilude as pessoas. Não bate com a realidade. O PSDB precisa de mais comunicação, mas não copiar o marketing ilusório do PT. Valor: O PSDB acusa o PT de estar antecipando 2006 e vice-versa. Quem saiu na frente afinal? Azeredo: É uma questão de fatos. Basta ver quem é que está todos os dias fazendo discursos, até com gafes, que é o presidente da República. Ele é quem antecipou o processo eleitoral. Não há dúvida. O PSDB só está cumprindo sua função de fazer oposição. E feliz do presidente por ser uma oposição consciente, que sabe que as coisas não são fáceis de fazer. Veja a questão das rodovias brasileiras. A nossa crítica não é uma questão de campanha eleitoral, é o dever de mostrar as condições precárias mesmo quando há dinheiro. Valor: Que estratégia o partido tem para tentar minar a aproximação entre o PT e o PSDB? Azeredo: O PMDB é ainda um partido com o maior número de prefeitos, talvez o maior partido do país. Mas é um partido muito dividido. O fato do PMDB estar buscando agora aproximação com o PT não quer dizer que estará com o PT nas eleições, ou integralmente com o PT. O PSDB acompanha essa questão sabendo que existem vários PMDBs. Não queremos nos precipitar. Hoje, o PSDB tem uma aliança de oposição com o PFL e o PDT e uma possibilidade de ter o PPS. As alianças futuras ainda são uma incógnita. Valor: A candidatura já colocada do prefeito do Rio, César Maia, pode dividir e enfraquecer a oposição no 1ºturno. O PSDB tentará demovê-lo da idéia de sair candidato pelo PFL? Azeredo: É natural que o PFL queira pré-lançar o nome mais forte eleitoralmente que tem hoje. Mas eu defendo que nós devemos estar juntos já no início da campanha eleitoral e acho que isso é possível. Nós estamos ainda há 18 meses das eleições, tem muita coisa para acontecer. Valor: O senhor é contrário à verticalização em 2006? Azeredo: O PSDB não tem uma posição de consenso sobre isso. O que queremos é que a discussão não se restrinja à questão da verticalização. Outros pontos também têm de ser aprovados como a fidelidade partidária, a manutenção da cláusula de barreira. Se for dentro de uma agenda mínima, o PSDB aceita discutir. Não dá é para aceitar que seja só isso como a reforma. A verticalização é um objetivo a ser perseguido, mas não na realidade de hoje. Eu pessoalmente acho que devemos buscar a verticalização, mas adiando a sua implantação. Valor: Garantir a reeleição em Minas, onde se prevê um cenário mais complicado do que em 2006, não torna a disputa estadual, e não a da presidência da República, o caminho natural para Aécio Neves? Azeredo: A tendência é o governador candidatar-se à reeleição. Ele está fazendo um bom governo e é bem avaliado. Mas ele é um nome forte nacionalmente e, se por ventura fosse o candidato a presidente, o partido se mobilizaria para encontrar outro nome e garantir a continuidade do governo. Valor: Se o vice-presidente José Alencar sair candidato ao governo com o apoio do PT, será um quadro mais complicado do que o de 2002? Azeredo: O nome do Alencar é um nome respeitado, mas não se sabe se ele irá candidatar a vice-presidente, governador ou senador. A candidatura do Aécio é forte, com todas as condições de vitória independentemente de quem for o adversário. Valor: A disputa pelo apoio do PMDB colocou o ex-presidente Itamar Franco como uma peça estratégica nas articulações. O sr. acha que o apoio dele tem todo esse peso? Azeredo: Só se for na estratégia da confusão. A estratégia da vitória não me parece que passe por aí.