Título: PT teme que Ciro prejudique volta de Wladimir às urnas
Autor: Janaína Vilella, César Felício e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2005, Política, p. A14

A possível candidatura do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS), paulista radicado no Ceará, ao governo do Estado do Rio, em 2006, preocupa os dirigentes do PT local, que apostam no nome do ex-deputado federal Wladimir Palmeira como uma alternativa para fazer frente aos prováveis candidatos do PFL e do PMDB. Na próxima quarta-feira, o ex-deputado federal se reúne em Brasília com a bancada federal do PT fluminense para discutir o assunto Teme-se a repetição do que ocorreu em 1998, quando uma interferência da direção nacional sobre o processo local destruiu a candidatura do mesmo Palmeira. "O PT tem uma proposta histórica e deve trabalhar com uma candidatura própria", disse o deputado Chico Alencar (RJ), sem esconder o receio. Alencar lembra que em 1998, a candidatura de Palmeira chegou a ser aprovada em convenção, mas acabou não indo adiante porque o Diretório Nacional interveio e forçou o partido a apoiar Anthony Garotinho, que terminou eleito. Os dirigentes locais atribuem a intervenção ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, então presidente nacional do PT. O comando nacional do partido, hoje, garante que o temor não tem fundamento. Palmeira teria obtido do próprio Lula garantia de apoio. Em suas visitas ao Rio, Dirceu tem se encontrado com Palmeira para discutir uma nova candidatura do ex-deputado, em 2006. Segundo petistas diretamente vinculados ao ministro, Dirceu comentou que se sente em dívida com Palmeira em função do que ocorreu há sete anos. Ambos comandaram o movimento estudantil em 1968. Foto: Rosane Marinho/Folha Imagem

Wladimir: ex-deputado ensaia retorno 8 anos depois de ter tido sua candidatura ao governo vetada pela direção nacional O cenário mudou com a disposição que Ciro Gomes teria manifestado em se candidatar ao governo e com a forte possibilidade do Rio ter dois adversários do PT na disputa presidencial, o prefeito César Maia (PFL) e o ex-governador Anthony Garotinho (PMDB). A candidatura própria do PT também foi fragilizada , na avaliação de oposicionistas, pelo fracasso da intervenção nos hospitais do Rio, decretada pelo ministro da Saúde, Humberto Costa, em março. Com a derrota do governo no STF por dez votos a zero, a probabilidade do eleitorado considerar que o governo federal prejudicou o Estado com a intervenção é grande. Para ser candidato, Ciro deve trocar de partido e ir para o PSB. O partido espera que a definição saia na primeira quinzena de maio. No Ceará, estará empenhado na candidatura do irmão Cid, ex-prefeito de Sobral , que vai acompanhá-lo na troca de partido. Ciro não descarta a hipótese de vir a ser o companheiro de chapa na campanha da reeleição de Lula, possibilidade hoje que parece remota mas que pode se tornar plausível com os desdobramentos das negociações do presidente com os aliados. Da bancada de 16 deputados federais do PPS, sete acompanhariam o ministro, assim como a senadora e sua ex-mulher Patrícia Saboya (PPS-CE). "Acho que Ciro Gomes pode aglutinar um conjunto de forças em todos os partidos e se transformar em um fato novo na campanha de 2006", disse o presidente regional do PSB, deputado federal Alexandre Cardoso (RJ). Segundo um ministro de Estado, Ciro Gomes teria comentado que aceitaria a candidatura caso ela tivesse um caráter neutro, podendo ser apoiada por todas as forças que se opõem ao casal Garotinho , o que incluiria César Maia e o PSDB. O objetivo maior de Ciro é se credenciar para disputar a eleição presidencial de 2010 e o ministro afirma aos mais próximos que não está disposto a entrar em "aventuras". Caso não possa armar esta ampla frente, a tendência do ministro é não ser candidato na próxima eleição. O ministro tem se reunido, quase semanalmente, com grupos de empresários, intelectuais e artistas do Rio, ocasiões em que o assunto sempre é discutido. Para concorrer ao governo Ciro teria de solicitar a mudança de seu domicílio eleitoral até o início de outubro, prazo que é um complicador: seus aliados o consideram muito curto para essa tomada de decisão. E faz com que tucanos e pefelistas não levem a sério a possibilidade de Ciro armar a frente. "Ele teria que se definir muito antes de todo mundo. Digamos que ele transfira o domicílio agora, partindo do pressuposto que o César Maia será candidato a presidente. E se em abril de 2006 o César for candidato a governador? Ele vai polarizar a eleição contra o candidato de Garotinho, o Ciro não vai ter mais chance alguma e não poderá mais recuar", comenta o deputado federal Eduardo Paes (PSDB-RJ). A engenharia política para se armar uma grande frente também está comprometida. "Até o dia 11 de março, quando o governo interveio nos hospitais do Rio, era possível termos um candidato comum ao governo estadual, com um pacto de neutralidade em relação à sucessão presidencial. Depois da intervenção, isto acabou. César Maia terá um candidato a governador que decididamente não será Ciro Gomes" afirmou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). No PSDB, Ciro Gomes é vetado pelas principais lideranças do partido, em função dos atritos que teve com o hoje prefeito de São Paulo José Serra, então candidato presidencial em 2002. Mas o nome do presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, chegou a transitar como um possível candidato de uma frente única anti-Garotinho. O acirramento da disputa política entre o Planalto e o PSDB, entretanto, sepultou a possibilidade.