Título: BNDES retarda empréstimo de US$ 50 mi ao país
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2005, Internacional, p. A15
A crise política no Equador levou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a retardar o anúncio da aprovação de um financiamento de US$ 50 milhões destinado à construção de um aeroporto naquele país. O banco estatal decidiu esperar por uma definição do quadro institucional equatoriano para comunicar a aprovação do projeto à empresa brasileira Norberto Odebrecht, responsável pela exportação de bens e serviços brasileiros para a obra. BNDES e Odebrecht acompanham os desdobramentos da crise política equatoriana para decidir sobre o andamento do projeto, que está entre as prioridades do Equador na lista da Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). O empreendimento consiste na construção de aeroporto internacional na localidade de Tena, na região da Amazônia, a cerca de 140 quilômetros da capital, Quito. No total, o projeto prevê investimentos de US$ 70 milhões, dos quais US$ 50 milhões, o montante a ser financiado pelo BNDES, correspondem à exportação de bens e serviços do Brasil. O financiamento conta com garantia do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR), mecanismo usado para mitigar riscos de inadimplência em operações de comércio exterior na América Latina. O CCR dá cobertura contra o chamado risco soberano, o risco-país. Nesta operação, o Banco Central do Equador garante o retorno do empréstimo em caso de inadimplência do importador, a empresa Ecorae, encarregada da construção do aeroporto de Tena. A aprovação do projeto pela diretoria do BNDES ocorreu no último dia 12. Após dar sinal verde ao projeto, o banco demorou em oficializar a decisão aos interessados (a Odebrecht e a Ecorae) e a deposição de Gutiérrez terminou obrigando o banco a dar "uma parada" no projeto. "Em princípio, não antevemos nenhum problema, mas pode acontecer atraso", reconheceu o diretor das áreas de indústria e exportação do BNDES, Armando Mariante. Ele lembrou que em maio de 2003 Gutiérrez e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva emitiram um comunicado conjunto reiterando a importância da integração física entre os dois países e destacando o papel do eixo Amazonas como facilitador da interconexão bi-oceânica. O aeroporto de Tena faz parte do eixo Manta-Manaus. Manta é um porto no Pacífico equatoriano. A idéia é de que o aeroporto facilite o escoamento de cargas exportadas desde Manaus. Após serem descarregadas em Tena, as mercadorias da Zona Franca seguiriam até o Pacífico via rodoviária. A obra é ainda considerada importante para o turismo e atividades ligadas à vigilância, permitindo o controle de fronteiras, do meio ambiente e da segurança nacional. André Amaro, diretor de exportações da Odebrecht, disse que a empresa acompanha a situação no Equador e pretende manter contatos com o novo governo. Ele disse que a Odebrecht tem contrato com a Ecorae para a construção do aeroporto de Tena, licitação que foi ganha este ano, mas analisa novas oportunidades de negócios no país. A empreiteira tem outros negócios em curso no Equador. A empresa está envolvida na construção da hidrelétrica de São Francisco, com capacidade de 230 megawatts (MW), que envolve a exportação de turbinas da Alstom e Vatech, desde o Brasil. No total, a usina envolve financiamento de US$ 242 milhões do BNDES para a exportação de bens e serviços do Brasil, dos quais o banco já liberou US$ 130 milhões. A Odebrecht também participa do projeto de irrigação Carrizal y Chone.