Título: Para Wagner, conflitos refletem crescimento da legenda
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Política, p. A-7

Os conflitos vividos pelo PT nestas eleições municipais, na opinião do ministro Jaques Wagner, refletem as dificuldades inerentes a uma legenda que se consolida como partido nacional. Ao analisar os resultados e a postura do PT em capitais como Salvador e Fortaleza, o baiano conclui que as polêmicas e adversidades das campanhas - e especialmente os ressentimentos gerados entre aliados - mostram que a maioria dos partidos não está estruturada nacionalmente. "São as dificuldades de ser um partido nacional. Você depende de parceiros, depende de apoios, precisa dar apoios, só que a realidade local muitas vezes não tem nada a ver com a questão nacional", avalia o ministro petista. "Por isso, acho fundamental a reforma política", acrescentou. Usando a Bahia como exemplo, o ministro afirma que é preciso ficar clara a diferença entre a gestão político-administrativa de governo, que busca construir a maioria no Congresso, e a disputa eleitoral. Em Salvador, segundo ele, o único caminho é o PT concentrar forças na campanha de João Henrique (PDT) para vencer César Borges (PFL). O ministro do PT admite que foi vítima da dificuldade de distinção entre partido X gestão de governo, já que no meio do processo eleitoral o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu no Palácio do Planalto o senador Antonio Carlos Magalhães e outros pefelistas. Para Wagner, o encontro foi legítimo, mas na hora errada. Ele discorda da avaliação de que o PT não deu apoio a Nélson Pellegrino: "Vivi a campanha e não tive em nenhum momento essa dúvida". "Eu tenho um adversário muito forte, que é Antonio Carlos Magalhães, que toda hora tenta jogar charme para o governo", disse o ministro. Foi isso, segundo ele, que o pefelista tentou fazer com o episódio no Palácio do Planalto. "O tiro saiu pela culatra", afirmou o ministro. Para ele, o eleitorado de Salvador não rejeitou a administração de Antonio Imbassahy (PFL), que é bem avaliada, mas sim o sistema político que até então dominava a Bahia. No caso do Ceará, avalia que a direção nacional não deve desculpas a Luizianne Lins. Segundo ele, houve uma avaliação nacional de cenário, e o PT decidiu que tinha que apoiar o PCdoB. O jogo mudou, e, agora, o partido deve seguir unido sem ressentimentos. Wagner acha que não teria sido saudável uma intervenção no diretório do PT de Fortaleza.