Título: PSDB aciona o Ministério Público contra o presidente
Autor: Maria Lúcia Delgado, Taciana Collet e Cristiane Ag
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Política, p. A-8

O PSDB considera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu ato de improbidade administrativa ao reunir, no Palácio do Planalto, os prefeitos do PT que venceram as eleições no primeiro turno, junto com a Executiva do partido, inclusive seu tesoureiro, Delúbio Soares, e recomendar engajamento na campanha de Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo. O deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), líder em exercício da bancada na Câmara, anunciou que vai ingressar hoje com representação no Ministério Público Federal, em nome do partido, questionando a atitude do presidente. "O presidente da República tem todo o direito de apoiar quem ele quiser, de declarar o voto, de gravar para a televisão. Outra coisa é usar o aparato do governo para fazer isso. A impropriedade reside nisso, sem dúvida nenhuma. É impróprio", afirmou o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, que, apesar de presidente nacional do PSDB será poupado pelo partido de assinar a representação. Na terça-feira, Lula reuniu-se com um grupo de seis prefeitos eleitos do PT e a direção do partido na sede do governo e discutiu estratégia de campanha do segundo turno, com atenção especial para a reeleição da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. O presidente limitou-se a dizer, por intermédio do porta-voz adjunto Rodrigo Baena, que a idéia do presidente é receber, "dentro das possibilidades da agenda" todos os prefeitos eleitos e reeleitos das capitais. O presidente fez questão de informar que hoje receberá o prefeito reeleito do Rio de Janeiro, o pefelista Cesar Maia (PFL) e o prefeito eleito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB). Na segunda-feira, ele terá uma reunião com a prefeita Teresa Jucá (PPS), reeleita em Boa Vista (RR). No mesmo dia em que o PSDB decidiu ingressar com uma ação contra o governo, um governador do partido, Marconi Perillo, esteve no Planalto para discutir apoio ao candidato do PT em Goiânia. Estiveram com Lula Marconi Perillo, e o candidato a prefeito de Goiânia derrotado, o deputado federal Sandes Junior (PP). "O presidente nos pediu se era possível apoiar Pedro Wilson", contou Sandes Junior. Para ajudar a campanha do petista, Sandes Junior pediu a colaboração financeira do governo federal para cinco projetos que faziam parte do seu programa para a capital goiana, como a construção de cinco mini-hospitais. "O presidente ficou de dar uma resposta nos próximos dias." O ministro da Corregedoria-Geral, Valdir Pires, não viu problemas éticos na reunião do presidente com os prefeitos do PT. "O presidente, a rigor, não pode ser uma pessoa amorfa. Isso faz parte do processo democrático. Não há sentido nem jurídico e nem político ir à justiça contra isso", ressaltou Valdir Pires. Para o presidente nacional do PT, José Genoino, não há problemas em o presidente receber os eleitos. Segundo Genoino, Lula receberá todos e de todos os partidos: "O presidente vai ter agenda com todos os prefeitos eleitos ainda este ano, independentemente do partido". Apesar das críticas dos tucanos, o presidente vai visitar a capital mais duas vezes antes do segundo turno. Na sexta-feira, Lula participará do evento "Cidades e Governos Locais Unidos" (CGLU), presidido pela prefeita Marta Suplicy , com a presença de prefeitos de outros países. A outra visita está prevista para o dia 23 - uma semana antes da eleição - quando o presidente deve inaugurar o Museu Afro-Brasileiro, já que a prefeita está impedida de fazê-lo pela Lei Eleitoral. Caso o Ministério Público acolha a representação do PSDB, a questão é encaminhada à análise do Supremo Tribunal Federal, quando então se ajuiza a ação de improbidade administrativa. A punição vai desde multa pecuniária à suspensão de direitos políticos. Os tucanos fizeram ontem, na sede do partido em Brasília, uma análise dos resultados do primeiro turno e definiram algumas estratégias para a disputa em São Paulo. José Serra participou da reunião. A participação maciça do PT na campanha de Marta Suplicy, na avaliação de coordenadores da campanha de José Serra, não tem impacto no eleitorado. "O resultado eleitoral é zero, isso se não for negativo", afirmou o deputado federal Alberto Goldman (PSDB-SP), ao comentar sobre a atuação incisiva que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, terá na "Me parece que há uma confusão entre governo e partido. O governo não tem direito de misturar trabalho de governo com trabalho partidário", criticou Serra, ontem durante campanha de rua em São Paulo . "Fico preocupado é com o uso do governo, do dinheiro do governo para a campanha, porque para se deslocar para São Paulo tem custos, tem aviõezinhos, tem dinheiro gasto. É dia que deixa de trabalhar. Isso é usar recurso público para eleição. Já foi feito no primeiro turno e espero que isso não se repita". Para o tucano, a campanha adversária mostra sinais de desestruturação. "Há grupos que ficam se degladiando para ver que estratégia vão usar. Uma mudança na coordenação agora revela que eles não têm unidade na estrutura de campanha e demonstra como está difícil manter o time", criticou Feldman.