Título: UE dá o primeiro passo para adesão da Turquia
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Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Internacional, p. A-9

A Comissão Européia recomendou ontem a abertura de negociações para a entrada da Turquia na União Européia (UE). Trata-se de um passo histórico que pode resultar na extensão das fronteiras da Europa até o Oriente Médio. Mas a Comissão estabeleceu duras condições, e o processo de adesão pode demorar mais de 15 anos. Num reflexo das apreensões que a questão provoca em grande parte da Europa, a CE, órgão executivo da UE, estabeleceu condições rígidas a serem cumpridas pela Turquia antes do início das conversações. O país tem de atingir determinados marcos em reformas abrangentes, que vão da segurança alimentar às taxas bancárias em transações financeiras com outros países. É possível ainda que Ancara enfrente uma controvertida restrição quanto ao número de trabalhadores turcos que poderiam entrar nos outros países do bloco. A comissão recomendou uma "cláusula de segurança" a ser invocada em épocas de dificuldade econômica para restringir o número de migrantes turcos. Essa restrição não existe para outros países. "Trata-se de um 'sim' condicional", disse o presidente da CE, Romano Prodi. "Nossa posição é positiva, mas também de prudência e cautela." O presidente francês, Jacques Chirac, disse que as negociações com a Turquia demorarão "no mínimo" de 10 a 15 anos. Chirac defendeu ainda a idéia de convocar um plebiscito na França para a aprovação de um eventual novo país na UE, o que a Turquia rejeita. Essa cautela reflete o desconforto que percorre o continente rico e majoritariamente cristão em relação à união com um país muçulmano e pobre, que pode se transformar na fonte de uma onda de imigrantes. Muitos europeus - a quem agora se pede que considerem a Turquia como uma nação irmã - se inclinam mais a lembrar do velho Império Otomano, considerado uma potência hostil que já governou partes da Europa, deixando em seu rastro um legado de corrupção. A expectativa é que os líderes dos atuais 25 países-membros aprovem a recomendação da CE na cúpula da UE, em dezembro. Isso prepararia o caminho para o início das negociações. Se, como espera a Turquia, as negociações começarem no início de 2005, é pouco provável que o acordo final de entrada do país seja assinado antes de 2015, segundo analistas. Prodi disse que a UE pode suspender ou mesmo interromper as negociações se entender que houve desrespeito grave aos direitos humanos ou à democracia. O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que rejeitará qualquer resultado das negociações que não seja a entrada do país no bloco, como um membro pleno e igual aos outros. Qualquer mudança de rota seria uma "manifestação de desrespeito para um país que acelerou" reformas políticas e econômicas nos últimos anos. A Turquia aspira a entrar na UE há mais de 40 anos e já aderiu a organizações econômicas, políticas e militares ocidentais, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o Conselho da Europa, o principal órgão que monitora os direitos humanos na Europa.