Título: Agronegócio vê sinal positivo, mas quer ampliar cot
Autor: Sergio Leo e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Especial, p. A-12

O agronegócio brasileiro interpretou como "um sinal positivo" o aceno feito pela União Européia de melhora da oferta agrícola. Os empresários ficaram particularmente satisfeitos com duas possíveis concessões dos europeus: ceder ao Mercosul a administração das cotas agrícolas e desistir do parcelamento em 10 anos dessas cotas. Os setores de carne bovina e carne de frango, porém, não estão dispostos a aceitar a oferta exatamente da maneira como foi sinalizada pelo negociador europeu, Karl Falkenberg, em entrevista ao Valor. Esses setores insistem que é necessário um aumento real das cotas. "Não basta o fim do parcelamento e a administração das cotas. Nós precisamos de um aumento do volume", disse Cláudio Martins, diretor-executivo da Associação Brasileira de Exportadores de Frango (Abef). Ele ressalta que a UE quase colocou sobre a mesa uma oferta de 245 mil toneladas de carne de frango, muito acima das 75 mil toneladas atuais. Na avaliação de Antonio Donizetti Beraldo, chefe do departamento de comércio exterior da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), "os europeus deram um sinal claro que tem disposição para flexibilizar. O Mercosul deve captar esse sinal". O co-chairman do Fórum Empresarial Mercosul União Européia, Ingo Plöger, sugere que o acordo entre os dois blocos ainda pode ser salvo com um "trade off" entre carnes e automóveis. Segundo Paulo Mustefaga, assessor técnico do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA, "o volume da cota de carne bovina é insuficiente, mas estamos dispostos a negociar". A UE sinalizou com a abertura imediata para 60 mil toneladas de carne bovina. Outras 40 mil toneladas seriam concedidas após a conclusão das negociações da Organização Mundial de Comércio (OMC). Mas em outra ocasião, o bloco havia mencionado 116 mil toneladas. De posse da informação que a UE poderia flexibilizar sua oferta, representantes do Fórum Mercosul da Carne, que reúne empresários de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, realizaram na terça-feira à noite uma conferência por telefone para tratar do assunto. Durante a conversa, chegaram a conclusão de que três pontos são essenciais para um acordo: fim do parcelamento das cotas, administração das cotas para o Mercosul, e inexistência de um limite para exportações fora da cota. Segundo Mustefaga, o setor está aguardando que a proposta da UE seja apresentada formalmente. Os setores de carne bovina e carne de frango lideram as exportações para a UE e estão entre os principais interesses brasileiros na negociação. Mas sua ambição de conseguir maiores cotas pode ser prejudicada pelo interesse político de fechar o acordo ou pelo temor de prejudicar todo a agricultura. Há setores satisfeitos com a cota sinalizada pela UE. É o caso da indústria de açúcar e álcool. Os europeus acenam com cota de 600 mil toneladas de etanol em uma primeira etapa. Mas essa seria a única cota cuja liberação não ocorreria imediatamente, mas em três anos. "Parece interessante. Caso essa proposta seja concretizada, isso nos obrigará a sentar novamente na mesa", diz Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). Elisabete Serodio, consultora da entidade, lembra que, antes do novo aceno da UE, o setor já havia decidido abandonar o prazo de 31 de outubro. "Mas se acabam as condicionalidades, do ponto de vista agrícola, não há impedimento para fechar o acordo", avalia.