Título: Produtor argentino rejeita troca
Autor: Sergio Leo e Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Especial, p. A-12

Os produtores de vinhos e queijos da Argentina não querem que os dois setores sejam usados como moeda de troca do Mercosul para que se tente fechar na última hora um acordo com a União Européia. Os dois setores, em uma postura que é compartilhada pelos negociadores do governo argentino, acreditam que a discussão sobre a abertura do mercado dos dois produtos é complexa e não pode ser feita às pressas. "Essa não é uma discussão que possa ser concluída no curto prazo", afirmou Mario Giordano, gerente da associação Bodegas de Argentina, que reúne os principais produtores de vinho do país. Segundo ele, o fato de a UE estar tentando obter concessões do Mercosul na área de vinhos é consequência da dificuldade dos produtores europeus de darem vazão à sua produção por causa do crescimento das vendas dos países com menor tradição no mercado mundial. No caso dos queijos, o maior problema é a falta de reciprocidade da UE em abrir seu mercado para os produtos do Mercosul. Segundo Jorge Secco, gerente do Centro da Indústria do Leite, a União Européia ofereceu cotas "insignificantes" ao bloco: a proposta prevê a exportação inicial de mil toneladas, com um aumento de mil a cada ano, por dez anos. Além disso, dez mil toneladas adicionais poderiam entrar depois de concluída a Rodada Doha da OMC. Secco considerou que a oferta é ruim, porque a produção de queijos do Mercosul chegou em 2003 a 700 mil toneladas. A Argentina, cuja indústria de laticínios é bastante competitiva, deve contribuir neste ano com quase metade da produção total do bloco e nos primeiros sete meses de 2004 exportou 14 mil toneladas de queijos. "Estamos dispostos a negociar com a Europa, mas sobre bases reais de comércio", disse Secco. Os dois setores também acreditam que será preciso realizar negociações detalhadas sobre o uso de indicações geográficas. Os produtores argentinos querem ter algum tipo de compensação se tiverem de deixar de usar nomes reivindicados pelos europeus como de uso exclusivo. Uma fonte do governo que acompanha as negociações concorda com a postura privada, considerando que os dois setores têm condições de competir com concorrentes europeus, mas que uma eventual abertura do Mercosul dificilmente solucionará as deficiências da oferta da União Européia.