Título: Real é maior ameaça ao desempenho da GM no país
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2005, Empresas &, p. B1

O presidente da General Motors do Brasil, Ray Young, diz que a empresa dispõe de fôlego de apenas três meses para manter o ritmo de exportações com o câmbio aos níveis de hoje. Depois disso, o volume dos embarques dos carros produzidos no Brasil terá de encolher, o que levará a uma consequente queda na produção da montadora no país. A responsabilidade de Young em não deixar a filial brasileira perder mais dinheiro aumentou depois do anúncio do resultado financeiro mundial da GM, na semana passada, que acusou prejuízo de US$ 1,1 bilhão no primeiro trimestre, o pior dos últimos 13 anos. Segundo Young, por causa do câmbio, a operação brasileira não teve participação no lucro de US$ 46 milhões registrado na região da multinacional que abrange a América do Sul, África e Oriente Médio no primeiro trimestre. "Estou em pânico; não consigo dormir com esse dólar", lamenta o executivo, um dos talentos do grupo GM, com larga chance de promoções futuras dentro da companhia. As exportações garantem à empresa 35% da receita no Brasil. No ano passado, as vendas externas somaram US$ 1,3 bilhão. Embora a GM não divulgue o resultado financeiro no Brasil, Young conta que de janeiro a março a empresa obteve lucro com o mercado interno e prejuízo no externo. "A soma dos dois resultou em prejuízo", diz Young. Faz oito anos que a GM do Brasil não dá lucro e os prejuízos globais anunciados em Detroit são sinal claro de que a companhia tende a ser menos tolerante com as regiões que não dão lucro. "Neste momento é muito importante não perder dinheiro", confirma Young. É por querer sair do prejuízo que o executivo decidiu reduzir os volumes de venda ao exterior se o câmbio continuar baixo. "Eu gostaria de poder aumentar os preços dos veículos exportados, mas isso não é fácil", afirma. Segundo ele, o principal problema está no México, maior mercado de exportação da General Motors e de outras montadoras. "No México enfrentamos grande competição dos fabricantes locais porque a relação do peso com o dólar é muito mais favorável que a do real", afirma. "O câmbio vai decidir se neste ano vamos produzir mais ou menos do que no ano passado", completa. No ano passado, a GM do Brasil produziu 563 mil veículos, recorde histórico e 29,2% acima do total de 2003. A postura é a mesma em relação ao mercado brasileiro. Apesar de as vendas internas terem dado lucro, o presidente da GM do Brasil já decidiu que também não quer perder dinheiro no mercado doméstico. Dessa forma, enquanto a busca da liderança a qualquer preço foi a tônica da empresa em 2004, neste ano, a rentabilidade ganha mais importância. Com participação de 23,1% das vendas totais de veículos no Brasil, a GM roubou a liderança da Fiat em 2004. No acumulado deste ano, caiu para a terceira posição. Young diz que espera uma melhora de posição nos próximos meses. Mas sempre com o objetivo da rentabilidade em primeiro lugar. A direção da GM coloca em dúvida também a continuidade do ritmo de crescimento do mercado interno depois de mais um aumento da taxa básica de juros. "Espero, ou melhor, desejo que a tendência de crescimento de vendas continue; mas me preocupa a taxa de juros", afirma. Para Young, o crescimento de 5,5% nas vendas de veículos no primeiro trimestre confirma previsões da indústria. "Mas esse resultado não reflete ainda a alta dos juros porque o impacto dos aumentos na taxa básica leva algum tempo no mercado de automóveis", destaca. "Sem contar que já há revisões na expectativa de crescimento do PIB", completa. Apesar das más notícias na matriz, a GM do Brasil garante que os investimentos em novos produtos estão mantidos. A subsidiária tem dois programas de renovação de produto. Vai aplicar R$ 650 milhões na criação de um novo Vectra, modelo de luxo médio fabricado em São Caetano do Sul (SP), que será lançado no último trimestre deste ano. Mas o investimento mais pesado, de US$ 240 milhões, será utilizado na linha de produção de um novo carro compacto, na fábrica de Gravataí (RS), onde está a linha do Celta. As obras começaram em setembro do ano passado. O investimento em Gravataí prevê, ainda, uma linha que permitirá a produção de carros em partes desmontadas. Com isso, a empresa poderá atender aos países que preferem importar carros desmontados para agregar o valor da mão-de-obra local. "Não podemos interromper o ciclo de investimentos", diz Young. "Precisamos de produtos competitivos para continuar crescendo e fazer dinheiro", completa.