Título: Londrina supera problemas comuns na coleta seletiva
Autor: Silvia Czapski
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2005, EMPRESA & COMUNIDADE, p. F6

Uma experiência em Londrina, cidade do Paraná, conseguiu superar três fragilidades comuns em programas municipais de coleta seletiva de lixo fundamentais na parceria com cooperativas e associações de catadores: 1) multiplicação de catadores avulsos que para garantir a sua sobrevivência recolhem produtos recicláveis antes da passagem do veículo de coleta das organizações institucionalizadas; 2) baixos índices de material coletado e altos custos do programa; 3) competição com a empresa responsável pelo lixo comum interessada em volume maior de resíduos para ganhar mais. Quem garante a superação dos problemas é Rosimeire Suzuki Lima, presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina (CMTU-LD), responsável pelo Programa "Reciclando Vidas", que estimulou a criação de 26 ONGs no município para tocar a coleta seletiva em parceria com a empresa municipal. Segundo a diretora, de 2001, data de início, até 2004, a coleta urbana de recicláveis saltou de três para 90 toneladas por dia e o custo por tonelada despencou para U$ 13. "A média indicada pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) é de U$ 114 por tonelada". Do lixo urbano gerado neste município de 500 mil habitantes, 23% seguem para coleta seletiva. A grande virada, afirma, começou logo depois da assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público, que obrigava a administração municipal a transferir catadores que trabalhavam no lixão para a coleta seletiva. A primeira solução da CDHU-LD foi ampliar a abrangência da coleta seletiva porta-a-porta, existente desde 1996, de 30 mil para 50 mil residências. Só que catadores de rua sentiram-se ameaçados. Da negociação nasceu a primeira ONG, composta por catadores do antigo lixão e carri-nheiros, visando trabalho na central de triagem, em parceria com a prefeitura. "Nosso principal objetivo era gerar renda para essas pessoas. Logo percebemos que se concentrássemos todos numa área os resultados seriam piores", diz a diretora. A cidade foi dividida em setores e, ainda em 2001, formaram-se 13 ONGs, reunindo 237 catadores que reivindicaram centrais próximas a suas áreas para depositar e triar materiais. "Hoje, são 474 catadores, reunidos nas 26 ONGs, recolhendo 2,4 mil toneladas mês", comemora. Só o centro da cidade não participa porque os catadores avulsos não se interessaram pela iniciativa. A fórmula é simples. Inicialmente, catadores entregam às donas de casa folhetos produzi-dos pela prefeitura e explicam o processo de separação e coleta. Depois, em dias pré-estabelecidos passam a buscar os materiais nas casas, levando-os para um ponto batizado de "bandeira". Sincronizadamente, um dos cinco caminhões da prefeitura faz o transporte das bandeiras ao barracão da ONG, onde os catadores realizam a triagem. Os caminhões da prefeitura ajudam, novamente, no encaminhamento dos materiais triados a uma central de prensagem e venda, administrada pelo conjunto de ONGs, que coordena a comercialização dos materiais. "Com esta metodologia conseguimos baixar nossos custos, porque não precisamos passar de casa em casa. Os catadores ganham mais na venda dos recicláveis, porque além de eliminarem os atravessadores, refinaram o processo de separação que chega a 32 ítens", explica a diretora. Em média, a renda é de R$ 400 mensais por participante. Segundo Rosimeire, outro fator para o sucesso do projeto, finalista do Programa Gestão Pública e Cidadania da Fundação Getúlio Vargas, está na mudança do contrato com a empresa que coleta lixo domiciliar. "Antes pagávamos por tonelada coletada. A nova licitação estabeleceu um valor global mensal fixo. O empresário não tem mais interesse em concorrer com quem faz a coleta seletiva para ganhar mais". Hoje, a prefeitura paga R$ 302 mil mensais à empresa, gastando outros R$ 105 mil na coleta seletiva. A meta do programa, de acordo com Rosimeire, é a auto-sustentabilidade. Para agregar mais valor aos materiais, há planos para adquirir equipamentos de transformação de Pet em flakes (pet moido) e triturar vidro. Além de assumirem o aluguel dos locais de funcionamento, coberto pela prefeitura por apenas um ano, algumas ONGs já compraram caminhões para transportar seus materiais. Rosimeire também destaca o aumento da auto-estima. "Na confraternização de fim de ano, que reuniu 800 pessoas, uma mãe veio agradecer porque seu filho des-de que participa da reciclagem, deixou de beber", exemplifica a diretora. (S.C.)