Título: Poder de consumo cresce nas cidades, mas tarifas pesam mais nas despesas
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, Brasil, p. A2

O consumidor brasileiro vai destinar 25,3% de seus rendimentos para o pagamento de aluguel, impostos, tarifas e contas de água, luz e telefone neste ano. É um crescimento considerável se comparado à porcentagem gasta para a manutenção do lar cinco anos atrás, quando estava em 16,3%. O salto nesse percentual foi dado entre 2003 e o ano passado, período em que os gastos com serviços com preços administrados pelo governo, como tarifas, ficou 25,8%. Segundo estimativa da Target Marketing, responsável pela pesquisa Brasil em Foco e pelo Índice de Potencial de Consumo (IPC), o potencial de compra das regiões urbanas do país deve ter crescimento real de 4,5% e chegar a R$ 1,1 trilhão. Ao mesmo tempo, a renda per capita vai atingir US$ 2.351 ou R$ 7.055, o que significa incremento de 9,2%, frente a uma renda de US$ 2.351 verificada no ano passado. Para Marcos Pazzini, diretor da Target Marketing, o reajuste dos preços administrados nos últimos anos ficou bem acima dos aumentos salariais, o que fez a participação dos gastos com esses serviços crescer em proporção maior a dos demais produtos consumidos pelas famílias brasileiras. Entre 2001 e março de 2005, por exemplo, o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e utilizado como principal indicador para o reajuste de tarifas públicas, acumula alta de 71,4%. No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a variação de preços de alimentos, vestuário, saúde, entre outros, oscilou 45%. Segundo Pazzini, o grupo chamado de manutenção do lar - que computa custos de aluguéis , tarifas e impostos - é o que mais demanda dinheiro do brasileiro e acaba por prejudicar os gastos com outros produtos essenciais. É o caso da alimentação no domicílio. Em 2001, as famílias destinavam 18,5% do orçamento para esse tipo de compra. Neste ano, a expectativa é que o valor chegue a R$ 125,4 milhões, o que representará apenas 11,7% do potencial total de consumo. A pesquisa também apurou uma mudança no perfil do consumo do país. Em 2005, 35,5% do total do potencial de compra estará nas mãos das capitais. Em 2001, esse número era de 37,4%. Em termos reais, as capitais perderam R$ 33,1 bilhões para consumir. Esse movimento pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo forte dinamismo do interior nos últimos anos. Em termos regionais, o Sudeste segue liderando, com 53,8% do consumo nacional. Mas perdeu participação em relação a 2001, quando detinha 54,2%. A cidade de São Paulo, sozinha, tem mais de 10% do potencial de compra do país A única região que ganhou participação foi a Sul, que vai ser responsável por 18,3% do consumo, contra um percentual de 16,5% há cinco anos. A região Nordeste caiu de 16,4% para 15,9%. Em seguida, está o Centro-Oeste, com um IPC de 7,2% esperado para 2005, inferior aos 7,7% de 2001, e o Norte do país, que deverá ficar com 4,9% do consumo, percentual menor do que os 5,1% de 2001.