Título: Brasil capta US$ 1 bi por 15 anos
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Finanças, p. C-1

O Brasil emitiu ontem US$ 1 bilhão em títulos de vencimento em 2019 no mercado externo, em operação considerada oportuna e com taxas de juros apertadas, vantajosas para o Tesouro Nacional. O rendimento do título, de 9,15% ao ano, ficou dentro da curva de juros do país, mas um pouco abaixo do esperado pelos investidores. Com a operação, o Tesouro adianta US$ 1 bilhão da captação externa total prevista de US$ 6 bilhões para 2005. Lançada pela manhã, no valor inicial de US$ 750 milhões, a operação foi fechada em apenas uma hora e meia, tamanha a demanda por parte do investidor, que foi calculada entre US$ 2,2 bilhões e US$ 5 bilhões. Parte dos recursos para a compra de títulos está apenas voltando para o Tesouro Nacional. Neste mês, vencem US$ 1,87 bilhão em juros e amortizações da dívida externa em bônus do governo federal. O investidor recebe o dinheiro e compra de volta títulos do Brasil. Os papéis emitidos ontem pagam prêmio de 492 pontos básicos sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, menor do que os 632 pontos básicos pagos na última emissão em dólar feita pelo Tesouro Nacional, em julho, de vencimento em dez anos e no total de US$ 750 milhões. Mas o prêmio do novo título é bem mais alto do que os 375 pontos básicos pagos em janeiro, por emissão de US$ 1,5 bilhão de vencimento em 30 anos. No mercado secundário, os títulos da dívida externa brasileira registraram queda de preços, ontem, por causa da alta do preço do petróleo internacional e do excesso de oferta de papéis. O C-Bond, o título mais negociado do governo federal, teve seus preços reduzidos em 0,29%. Mas, "a janela de oportunidades continua aberta para o Brasil", afirmou o economista-chefe para mercados emergentes do ABN AMRO, Arturo Porzecanski. Segundo ele, a emissão de ontem foi "correta". "A operação colocou o governo em posição mais confortável para o ano que vem", disse. "O Brasil fez uma operação oportuna e conseguiu alongar o prazo de sua dívida externa a um custo baixo", afirmou Luís Paixão, diretor de renda fixa do Banif Primus. Segundo lembrou, na hora do lançamento do novo título de vencimento em 2019, o C-Bond pagava rendimento de 8,70% ao ano no mercado secundário. Já o título do governo brasileiro de vencimento em 2020 pagava 9,5% ao ano. Seria de se esperar que o novo papel pagasse de 9,37% a 9,30% ao ano, um rendimento mais próximo ao título de vencimento em 2020, argumentou Paixão, e não 9,15%. "O Tesouro brasileiro conseguiu um bom preço e uma boa demanda", disse. Isso significa, segundo ele, que o apetite por risco-Brasil continua elevado. "A emissão foi coerente com as boas condições de mercado para o país", afirmou Paixão. Porzecanski não acredita que os dados de emprego nos Estados Unidos a serem divulgados na sexta-feira vão alterar a percepção de que a economia americana está crescendo em um ritmo lento. "Isso é boa notícia para os países emergentes, pois significa que os juros americanos vão continuar a subir em um ritmo lento", explicou ele. Segundo ele, os últimos dados sobre a inflação no Brasil trouxeram surpresa positiva. "Se tudo continuar assim, podemos estar chegando ao fim de um aperto monetário que mal acabou de começar", disse. Há um mês, o mercado interno espera "uma cadeia de aumentos consecutivos na taxa básica de juros brasileira Selic", afirmou. Agora, segundo ele, se espera mais um ou dois aumentos nos juros e só. A agência de classificação de risco de crédito SR Rating reafirmou ontem a nota do Brasil em "BB, SR", o que significa risco mediano. Um dos argumentos que baseiam a decisão é a forte probabilidade de recuo da relação entre dívida externa/exportação.