Título: Lula pode acompanhar Bush em viagem para a Argentina
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, Brasil, p. A6

Com a missão de mostrar o interesse dos Estados Unidos pela América Latina, e, especialmente, pelo Brasil, a Secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, chega hoje ao país, para uma visita de dois dias. Ela pretende concentrar suas intervenções públicas na defesa da democracia e das instituições democráticas no continente e deverá sondar o governo brasileiro sobre a possibilidade de presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanhar o presidente George Bush, durante a viagem do presidente americano para a Cúpula das Américas, em Buenos Aires, em novembro. A viagem dos dois presidentes, sinal de interesse pelo Brasil, poderia ocorrer antes ou depois da viagem planejada por Bush - mas ainda não confirmada - para o Brasil, naquele mês. A Área de Livre Comércio das Américas (Alca) será, certamente, um dos assuntos abordados por Rice durante a visita, já que o governo Bush estabeleceu, como uma das prioridades para o continente americano, a retomada destas negociações comerciais. Rice pretende, porém, mais ouvir que falar sobre o assunto durante os encontros que manterá com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e com o presidente Lula. Deverá lembrar que os dois países estão comprometidos com o objetivo de chegar a um acordo, e que ambos são co-presidentes das negociações da Alca. Os interlocutores do governo brasileiro na administração Bush reconhecem, porém, que o tema é atribuição de outro setor do governo americano, a Representação Comercial dos Estados Unidos (USTR), uma espécie de ministério do comércio exterior, cujo titular, Robert Portman, foi nomeado recentemente e ainda aguarda confirmação de seu nome pelo Congresso. Só após a posse de Portman, esperada para a semana que vem, o governo americano restabelecerá a todo vapor o impulso para retomada da Alca, comenta um dos encarregados dos preparativos para a visita de Condoleezza Rice ao Brasil. Rice, em sua visita, quer evitar menções à Venezuela, país com atritos recorrentes com os Estados Unidos, e suas referências à recente crise política no Equador - que levou à deposição do presidente Lucio Gutiérrez, asilado no Brasil - devem enfatizar a necessidade de normalização institucional no país. Os EUA querem, da mesma forma que o Brasil, a convocação de eleições no mais rápido espaço de tempo no Equador. Rice, contudo, não pretende se estender em considerações sobre nenhum país específico. A viagem da secretária de Estado americana traz uma mensagem visível e outra subliminar. O recado explícito é a preocupação dos Estados Unidos com os processos democráticos no continente, que, segundo argumentam encarregados da visita, não se limita à realização de eleições, mas exige o respeito às instituições e aos processos democráticos de decisão - algo que, na avaliação do departamento de Estado, falta na Venezuela e faltou no governo Gutiérrez, com a dissolução da Corte Suprema pelo então presidente. A mensagem implícita que Rice pretende passar é a de que, ao contrário do que afirmam os críticos do governo americano, a administração Bush não deu as costas à América Latina e busca uma aproximação, "engajamento, interesse e compromisso" com os países da região. A visita de Rice é a terceira, em oito meses, de um importante membro do primeiro escalão do governo americano ao Brasil. Desde a posse, o Brasil é o primeiro país latino-americano a receber uma visita oficial de Rice. Antes ela só esteve em uma breve passagem, de quase quatro horas, pelo México.