Título: Serra discute armistício com o PT pela renegociação da dívida de SP
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, Política, p. A10

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), fez ontem o primeiro gesto para diminuir a tensão política com o PT em sua administração. Interessado em rediscutir o acordo de federalização da dívida da cidade, Serra reuniu para um almoço os três senadores paulistas, os petistas Aloizio Mercadante (líder do governo) e Eduardo Suplicy e o pefelista Romeu Tuma. Dos petistas, o prefeito ouviu que para obter apoio em Brasília será essencial estabelecer um armistício com a ala do partido mais identificada com a ex-prefeita Marta Suplicy. Desde o dia da posse, a atual administração municipal e a passada trocam acusações. "Nós do PT também encontramos uma situação federal em 2003 muito delicada e não desconstruímos o que foi feito na administração do PSDB. O que oferecemos é o diálogo, estamos dispostos a negociar o mérito das propostas e os ataques que o prefeito fez não ajudam", afirmou Mercadante. Nenhum dos três senadores aceitou falar sobre a proposta de Serra, dos quais um dos principais pontos é a troca do indexador do contrato da dívida. Frisaram que no almoço Serra concordou que a Lei de Responsabilidade Fiscal não poderá ser ferida na negociação. A renegociação do contrato, mesmo sem mudar a LRF, "é muito difícil", de acordo com Mercadante. Como alternativa, os senadores prometeram interceder para que o BNDES agilize a liberação do restante das linhas de financiamento para transporte coletivo que não foi utilizado pelo governo petista. Durante o encontro, Serra pediu o apoio dos senadores não apenas em relação às demandas em Brasília, mas também na Câmara dos Vereadores de São Paulo. Mercadante e Suplicy deverão conversar com os parlamentares petistas. O prefeito está sem maioria legislativa desde que perdeu a eleição para a Mesa Diretora da Casa, governa por decreto e mandou apenas quatro propostas para o exame dos vereadores. "O prefeito não é candidato nas eleições do próximo ano e quer tirar a sucessão para o governo do Estado da pauta da Câmara", afirmou Tuma. Dos doze vereadores petistas, nove são fortemente ligados ao grupo formado pelo vereador Arselino Tatto, o ex-deputado Rui Falcão e o ex-secretário municipal Valdemir Garreta, que defendem a candidatura de Marta Suplicy ao governo do Estado e a oposição sem limites ao governo municipal. Serra prefere estabelecer pontes com o PT municipal a abrir negociações com o bloco de vereadores conhecido como "centrão", que pede o loteamento de cargos da máquina municipal. Mas a possibilidade de Mercadante - também pré-candidato ao governo estadual - ou de Suplicy conseguirem diminuir o grau de radicalismo da oposição petista é pequena. Ontem mesmo, a Justiça concedeu mais uma liminar que suspende os efeitos da portaria intersecretarial que parcelou a dívida da prefeitura com fornecedores e quebrou a ordem cronológica para os pagamentos. A liminar foi pedida pelo vereador Paulo Teixeira (PT), um dos três parlamentares na Câmara mais afinados com a direção nacional do partido do que com a ex-prefeita.