Título: Fluxo cambial volta a ficar negativo com saídas elevadas pela conta CC-5
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Finanças, p. C-2

Dados oficiais do movimento de câmbio relativos a setembro ajudam a explicar por que o Banco Central ainda não retomou o seu programa de compra de dólares no mercado para recompor as reservas internacionais. O fluxo cambial ficou negativo, em US$ 128 milhões, o que significa que não houve "sobra" de moeda estrangeira no mercado, apesar da forte queda do risco-Brasil e do aumento da liquidez internacional para o país. Pelo segundo mês seguido, o principal fator por trás do fluxo negativo no mercado de câmbio foram as saídas relativamente altas pelas chamadas contas CC-5 (criadas pela carta-circular nº 5). Por esse canal, houve remessas líquidas de US$ 813 milhões. O número é menos desfavorável que o verificado em agosto - US$ 2,110 bilhões -, mas é bem mais alto do que a média mensal verificada no primeiro semestre, de US$ 146 milhões. A explicação do BC para esse fluxo mais alto nas contas CC-5 são operações pontuais de remessa de dólares, ligadas a empréstimos ao exterior ou quitação antecipada de dívidas. As exportações continuaram a prover volume alto de dólares ao mercado - em setembro, foram US$ 8,057 bilhões, em linha com o bom resultado de meses anteriores. As compras de moedas pelos importadores repetiram o mesmo valor observado em setembro, quanto somaram US$ 5,084 bilhões. Com isso, o saldo comercial do mercado de câmbio chegou a US$ 2,973 bilhões, na média observada desde o início do ano. Os dólares do comércio exterior foram suficientes para cobrir as saídas financeiras líquidas no câmbio livre. Em setembro, as saídas de dólares superaram US$ 2,287 bilhões os ingressos nas operações de serviços e de capitais (empréstimos e investimentos diretos e em carteira). Somando comércio e movimento financeiro, o mercado livre de câmbio registrou uma entrada líquida de US$ 685 milhões. Os dólares foram insuficientes, porém, para cobrir as remessas das contas CC-5, que somaram US$ 813 milhões, e por isso o movimento global de câmbio fechou setembro com um resultado negativo de US$ 128 milhões. Coube aos bancos suprir o mercado com dólares. No mês, eles elevaram sua posição vendida em moeda estrangeira de US$ 505,2 milhões para US$ 597,9 milhões. Em janeiro, o BC anunciou um programa de recomposição de reservas internacionais. No mesmo mês, porém, interrompeu as compras no mercado, devido à redução da moeda disponível. Há duas semanas, quando divulgou a projeção do balanço de pagamentos para 2005, o BC informou que o programa será retomado assim que houver condições favoráveis.