Título: Gerdau planeja liderança em aço longo nas Américas
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Empresas, p. B-5

A siderúrgica Gerdau, o mais ativo dos grupos siderúrgicos do Brasil no cenário internacional, quer uma posição de liderança no mercado de aços longos, a sua especialidade, nas Américas. A estratégia está traçada e seu desenho mostra uma rota de ocupação de espaços ainda vazios na América do Sul - na faixa litorânea do Pacífico -- e no México, enquanto consolida seu agressivo avanço na América do Norte. De um porte de 4 milhões de toneladas cinco anos atrás e nenhuma grama de aço nos Estados Unidos, hoje o grupo tem capacidade para mais de 16 milhões de toneladas, sendo metade disso na América do Norte (EUA e Canada). Apenas no Brasil, tem um plano de investimento em curso de US$ 1 bilhão até 2008, que somará cerca de 3 milhões de toneladas. Nessa trajetória, o grupo poderá anunciar em breve uma nova aquisição em algum país da América do Sul, no México ou Estados Unidos. O presidente da companhia, Jorge Gerdau Johannpeter, disse ontem que esta avaliando varias oportunidades. Fontes do setor dão como certa uma compra, muito em breve, na Colômbia ou México. O empresário explicou que a tendência é expandir na América do Sul, a partir das fronteiras do Chile, onde já possui uma usina, para inserir em sua base de produção mercados de países vizinhos, como Bolívia, Peru e Colômbia. Hoje, só atua comercialmente nesses países. "Temos de estar plugados", afirmou o empresário, que participou ativamente de todas as apresentações de palestras realizadas durante o congresso internacional do aço, que enfocaram desde custos das matérias-primas ao fenômeno China. "É uma ótima oportunidade para fazer contatos, saber das coisas que estão acontecendo e aprender um pouco mais", comentou. Isso parece explicar bastante a trajetória de expansão acelerada do grupo nos últimos anos. Segundo ele, a sequência desse caminho passa pela consolidação dos ativos da America do Norte, onde adquiriu em setembro quatro usinas que pertenciam a Cargill por US$ 266 milhões. "É muito estratégico ter uma posição no México", afirmou. Segundo informações, a Gerdau já teria saído vitoriosa na disputa com outro grupo sul-americano na compra de um ativo importante. O empresário apenas ri e nem diz sim nem não. "Estamos olhando", resume. A Gerdau, explica ele, atuou na consolidação da siderurgia americana e hoje detém o segundo lugar, com 25% a 30% do mercado local de aços longos. Só fica atrás da Nucor, que possui 35%. "Cinco anos atrás, a Nucor dominava sozinha esse mercado, competindo com pequenos fabricantes. Agora, nós e um terceiro fabricante disputamos posições nesse mercado". Não há mágica, diz. "Vamos junto com a tendência mundial e o setor esta ativo, com fortalecimento dos grupos no mundo inteiro. Se está no jogo, é para participar; se não perde-se a vez", diz. Na América do Norte, o grupo tem mais de US$ 700 milhões em ativos, que vem se valorizando. A divida, na sua avaliação bem confortável, está na casa de US$ 550 milhões, para um complexo de 14 usinas com capacidade de produzir mais de 8 milhões de toneladas de aço por ano. Um lado de sua estratégia, bem a vista, é comprar usinas em dificuldades financeiras e necessitadas de investimentos em modernização. Com ajustes de eficiência e qualidade dos ativos, a rentabilidade, em pouco tempo, é alta. No caso dos EUA, as sinergias vão trazer ganhos da ordem de US$ 200 milhões, segundo o empresário. Segundo Gerdau, esse crescimento de 300% em cinco anos levou o grupo a reforçar seu time de executivos, com a contratação de pessoal com experiência internacional. É o caso do ex-presidente da Esso, Ricardo Gehrke, para comandar a área comercial de aços longos comuns no Brasil. "Sem isso não é possível. Desde que vislumbramos um potencial grande de crescer na América do Norte, há dois anos, deslanchamos esse processo. Há duas semanas, o grupo entrou com pedido de financiamento de cerca de US$ 150 milhões no BNDES para a expansão da Açominas, produtora de aço semi-acabado (tarugos) em Ouro Preto (MG). Com um novo alto-forno, a empresa vai elevar sua capacidade de 3 milhões para 4,5 milhões de toneladas em meados de 2007. "Sempre pegamos cerca de 30% de recursos do BNDES e pomos 50% de dinheiro próprio. O restante vem de financiamento dos fornecedores de equipamentos". Sobre a consolidação da siderurgia no Brasil, Gerdau disse que as posições já estão tomadas. Segundo ele, normalmente se faz fusões, vendas de ativos e aquisições, quando as empresas estão com problemas financeiros. "Como todas - Usiminas/Cosipa, CSN e o próprio Gerdau - estão ganhando com o fluxo de caixa muito bom, ninguém quer fazer nada". Ao contrário dos Estados Unidos nos últimos anos, onde todos estavam quebrados. No Brasil, a vontade de formar uma grande usina de aço, na sua visão, vem mais de projetos do BNDES, que acha que o país precisa ter uma grande empresa. Ocorre, diz o empresário, que a economia do país é pequena no contexto mundial e as suas empresas também são pequenas. E são, frente as mastodontes do aço, de 30 milhões a 40 milhões de toneladas para cima. Por isso, para ele, quem ficar só no Brasil será pequeno no mundo. Foi com essa visão que decidiu, desde 1980, dar o primeiro passo de se internacionalizar. A primeira base foi pequena, no Uruguai. E não parou mais. Em parte, o que explica esse interesse do BNDES é o movimento de consolidação da Arcelor no Brasil, reunindo suas quatro empresas - CST, Belgo-Mineira e Acesita, mais a Vega do Sul. "Temos de entender que o jogo não é local, o jogo é internacional", afirma o empresário. (IR)