Título: Campo Largo muda marca e investe em vinhos finos
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, Empresas &, p. B3

Depois de conquistar, no ano passado, a liderança em vendas de vinhos de mesa, que podem custar cerca de R$ 6,00, a paranaense Campo Largo prepara-se para disputar o mercado de vinhos mais finos, a serem vendidos entre R$ 10 e R$ 20 a garrafa. A empresa sexagenária deixará de apresentar-se como Vinhos Campo Largo e adotará o nome Vinícola Campo Largo. A nova estratégia está sendo planejada há dois anos e inclui investimentos em novas máquinas e a abertura de uma loja no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, um dos pontos turísticos mais visitados do Paraná. Na loja de 350 metros quadrados - que será usada como principal ponto de divulgação da marca - estão sendo investidos R$ 400 mil. Mais R$ 1,6 milhão serão usados no processo de mudança da marca - os caminhões da empresa, por exemplo, serão pintados com um novo logotipo. Há oito anos sob o comando de Giorgeo Zanlorenzi, de 30 anos, neto do fundador, a empresa passa por reformas na sede instalada no município de Campo Largo, perto de Curitiba. Em 2004 foram investidos R$ 4 milhões na sede e outros R$ 5,5 milhões serão gastos neste ano na compra de uma máquina alemã para engarrafamento de produtos gaseificados. Foi perto da sede, cujas paredes e móveis levam a cor vinho, que a família plantou uva e produziu nos primeiros 35 anos. Mais tarde a produção foi transferida para São Marcos, no Rio Grande do Sul, onde a empresa recebe uvas cultivadas por 1,2 mil famílias. De lá o líquido é enviado a Curitiba para o engarrafamento. No ano passado a Campo Largo comprou 22,8 milhões de quilos de uvas e informou ter vendido cerca de 20 milhões de litros de vinho comum, 12% mais que em 2003. O aumento foi superior aos 3,6% registrados pela União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra). Segundo dados da Uvibra, em 2004 foram vendidos no Brasil 224,8 milhões de litros de vinho de mesa, feitos com uvas americanas ou híbridas e que responderam por 92% do consumo. Os finos são produzidos com uvas viníferas de origem européia. No ranking da Uvibra a Campo Largo apareceu até 2003 em segundo lugar da categoria, mas subiu ao topo, ultrapassando a Cooperativa Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves (RS), produtora do vinho Sangue de Boi. O diretor comercial da Aurora, Carlos Zanotto, contesta os números e garante que a cooperativa continua líder. "Eles transferiram 16,6 milhões de litros de São Marcos para Campo Largo, mas isso não quer dizer que tenham vendido tudo", diz. A Aurora vendeu 15,5 milhões de litros de vinho de mesa em 2004, do total de 32 milhões de litros produzidos. Já na década de 70 ela começou a investir em vinhos finos e em 2005, pela primeira vez, a produção destes deverá ser maior que a dos de mesa. "Está acontecendo uma reversão de consumo", diz Zanotto. Tanto Campo Largo como Aurora concordam que os de mesa são a porta de entrada para o consumo de vinhos. Como também passará a ter dois produtos para oferecer, o diretor comercial da Campo Largo, Wilton Tremura, espera aumento de 10% nas vendas em 2005 e a conquista de novos mercados. Há oito anos as garrafas da Campo Largo chegavam a quatro estados. Hoje chegam a 16 e a meta do executivo é alcançar todo o país em cinco anos e também exportar. A primeira negociação no exterior está sendo feita com um comprador da África, mas os detalhes são mantidos em segredo, assim como o faturamento da empresa. "Existe discriminação ao vinho de mesa, mas há finos que não recomendo a ninguém, pela falta de qualidade", diz Tremura. Zanlorenzi, que aos 16 anos de idade decidiu trabalhar fora da empresa da família para ganhar experiência em uma distribuidora de cervejas, voltou disposto a ampliar o mix de produtos. Hoje o cliente encontra o vinho mais popular e conhecido da marca, o Campo Largo, fechado com rosca, por cerca de R$ 4. O que leva o nome "do Avô", lançado há três anos, pode ser comprado por R$ 6. Os novos vinhos, mais finos, chegarão às gôndolas por R$ 10, o Baccio, e R$ 20, o Vapore 1888 - ambos da safra 2002. A empresa vende ainda suco de uva e cooler, uma bebida de baixo teor alcoólico que mistura vinho branco e suco de fruta. Também está sendo preparado o lançamento de frisantes. "Antes a Campo Largo estava mais voltada para a produção do que para a venda", diz Zanlorenzi, que implementou as mudanças com o apoio de outros três sócios, membros da família.