Título: PDVSA descarta óleo abaixo dos US$ 30
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/10/2004, Empresas, p. B-7

O presidente da estatal venezuela PDVSA e ex-presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Alí Rodríguez Araque, disse ontem que o atual preço do petróleo, que ontem fechou cotado acima de US$ 52 nos EUA, não é sustentável e deve cair no segundo trimestre de 2005. "Em minha opinião pode haver uma acomodação de preços mas eles não devem se acomodar nos patamares anteriores e devem se manter acima dos níveis do passado, o que deve provavelmente deve levar a um ajuste nos preços pela Opep", disse Rodríguez. A princípio ele evitou estimar em que faixa o preço deve se estabilizar, dizendo depois que a seu ver o novo patamar não deve ser inferior a US$ 30 o barril. Atualmente, a Opep trabalha com uma banda variando entre US$ 22 e US$ 28. Entre as razões citadas por Rodríguez para balizar a expectativa de redução dos preços ele citou o fato de a oferta mundial, que é de 84 milhões de barris por dia, dos quais 54 milhões produzidos por países não Opep, ser superior ao consumo, hoje em torno de 81,1 milhões de barris por dia. "Isso significa que temos mais de 3 milhões (de barris) de excesso de oferta". O executivo ressaltou ainda que hoje há uma grande formação de estoques, que ajudam a elevar os preços, mas o mesmo fator deve ajudar a reduzí-los nos próximos meses. Ao analisar as causas da escalada atual, Rodríguez lembrou que há gargalo de refino nos EUA, onde existe grande oferta de petróleo sem capacidade de processamento, o que provoca deficiências na produção de gasolina, que então precisa ser importada por altos preços que, por sua vez, acabam influenciando a bacia Atlântica e outros mercados. O último, e não menos importante fator que explica a pressão altista, é o imenso volume de transações no mercado financeiro, sem lastro físico. "São negociados 120, 140 e 160 milhões de barris por dia, o que é muito acima da produção. São barris de papel que têm grande influência sobre nossos preços. E é justamente no mercado futuro que se sente outros impactos extra-econômicos, como por exemplo os problemas com a Yukos na Rússia e a tragédia que enfrenta hoje o povo do Iraque", disse. O presidente da PDVSA esteve ontem no Riocentro, onde participou da Rio Oil & Gas. Em sua visita ao Rio ele teve um encontro com o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, onde segundo ele foi discutida a criação de um grupo de trabalho para analisar projetos conjuntos em refinarias para processar petróleo pesado, investimentos conjuntos na Venezuela e outros países, e em tecnologia para melhorar a extração e a qualidade do óleo pesado Fontes do mercado disseram que foi discutida a possibilidade de uma associação para compra conjunta dos ativos de distribuição da Shell na Argentina. Em sua entrevista Rodríguez negou que esses ativos tenham sido oferecidos pela Shell. Ele admitiu entretanto que chegou a negociar a compra de ativos da Ipiranga, complementando que as negociações ainda não tiveram resultado. A assessoria do grupo brasileiro negou. O executivo disse que continua interessado em construir uma refinaria em Pernambuco, mas disse que o projeto depende de finalização de alguns estudos, incluindo incentivos fiscais.