Título: Dólar cai a R$ 2,523; nem sinal do BC
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, Finanças, p. C2

O mercado financeiro internacional colocou ontem de lado suas preocupações relacionadas com o aperto monetário nos EUA e exibiu um comportamento otimista. Com sinal verde vindo de fora e com a persistência da oferta de dólares por exportadores, a moeda americana caiu ontem 0,59%, cotada a R$ 2,5230, menor preço desde 31 de maio de 2002. No acumulado de abril, o dólar registra desvalorização de 5,43%. No ano, a baixa é de 4,94%. Apenas o retorno do Banco Central à ponta de compra poderá reequilibrar as forças de mercado. O BC fez seu último leilão de compra no dia 16 de março e pagou R$ 2,7490. De lá para cá, o dólar despencou 8,22%. A principal aposta hoje nas mesas de câmbio se dá em relação se o BC voltará ou não a comprar, mas em que piso ele retornará. Ele não pode deixar o dólar cair livremente, confiando em que, em algum momento, as forças naturais do mercado irão puxar o preço para cima. Isso significaria apostar em uma piora no cenário internacional ou na retração dos exportadores. Pelos dois lados, a "solução de mercado" seria nefasta. Não existe mais política cambial no Brasil. A razão de ser do BC é a política monetária, sinônimo de subir juro indefinidamente. A política de dívida pública compete ao Tesouro e a política fiscal, à Fazenda. Não há coordenação entre elas. Por trás da reiteração enfadonha do conceito de que o câmbio é flutuante e que o BC não tem meta cambial está escondida a realidade de que a formação de reservas cambiais com Selic a 19,50% é extremamente cara. O custo para o BC é o diferencial entre essa taxa interna, a maior do mundo, e a paga pelos títulos do Tesouro americano. No caso de países com megarreservas, como a Coréia (mais de US$ 200 bilhões) esse diferencial é de 1%. No caso brasileiro, de 14,7%.

Uma saída temporária, já que o BC não abre mão do juro elevadíssimo, é a permissão para a volta do Tesouro à ponta de compra do dólar, como ocorreu até o final do ano passado. Para honrar compromissos externos, o Tesouro já fez este ano três captações soberanas no mercado internacional. Arrecadou US$ 2,9 bilhões. Para cumprir a programação do ano, precisaria captar mais US$ 1,5 bilhão. Ele poderia comprar esse montante diretamente do mercado de câmbio doméstico. Os dólares não entrariam nas reservas, mas rumariam para quitar os compromissos.

Moeda americana já caiu 5,43% este mês

Nem o benefício teórico da ajuda antiinflação fornecida pela apreciação cambial o BC pode contar. O dólar não pára de cair e as expectativas de inflação do mercado não param de subir. A projeção de IPCA para 2005 das cem instituições que alimentam o Boletim Focus do BC avançou de 6,10% para 6,15%, segundo relatório divulgado ontem. Para os próximos 12 meses, o prognóstico subiu de 5,58% para 5,66%. Os dados para esse boletim foram colhidos antes da decisão do Copom de subir a taxa básica de 19,25% para 19,50%. Mesmo assim eles foram invocados pelo mercado futuro de juros da BM&F para elevar projeções de CDI. O contrato mais negociado, para a virada do ano, subiu de 19,57% para 19,58%. A bola de neve não interrompe o seu curso: o Focus se deteriora, eleva a curva futura de juros cujo efeito é o encarecimento do custo do crédito. As empresas que compram à vista e vendem a prazo repassam a elevação do custo financeiro, a inflação corrente sobe, o que degrada as expectativas do Focus. O BC acaba subindo o juro, o que atrai ainda mais dólares para o Brasil. Os investidores estrangeiros elogiam a política econômica brasileira e continuarão ganhando dinheiro aqui enquanto não houver uma revoada por medo ou de desaquecimento global ou de alta do juro americano. O risco-país caiu ontem 1,34%, para 443 pontos-base.