Título: Executivos de bancos apostam na manutenção dos juros neste ano
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, Finanças, p. C2

A tendência da taxa de juros básica (Selic) é se estabilizar no patamar atual - foi elevada a 19,5% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada. Essa é a visão de três executivos de bancos, ouvidos ontem durante a solenidade de apresentação da equipe do novo presidente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), Alfredo Neves Penteado Moraes. "Só espero que pare por aí, não suba mais", disse o vice-presidente executivo do Bradesco, Antonio Bornia, optando por não cravar um percentual específico. Segundo ele, o banco trabalha com uma estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,6% a 3,7% e um aumento do volume de crédito no sistema financeiro nacional da ordem de 20% a 22%. Daniel Gleizer, diretor executivo do Unibanco, responsável pela área de tesouraria, disse que a instituição está no momento em fase de revisão dos principais indicadores econômicos. Mas ele acredita que a taxa Selic deve "parar e ficar (onde está)", dependendo da confirmação da intensidade da desaceleração da atividade econômica. "Há evidências dessa desaceleração em diversos dados, como a produção industrial e as vendas (do comércio)". Segundo Gleizer, "é difícil hoje auferir a intensidade" da queda da atividade, mas ele acredita que há elementos para que o Copom suspenda a elevação da taxa de juros. Reinaldo Le Grazie, sócio da Proventus Invest, uma administradora de recursos de terceiros, faz uma projeção de que os juros chegam ao mês de dezembro de 2005 na faixa de 18,5% a 19%, ou seja, incorpora uma ligeira redução, porém só no final do ano. No máximo, diz Le Grazie, "não sobe, mas não cai mais", afirma o especialista, que já passou pela tesouraria de vários grandes bancos nacionais e estrangeiros. Sobre o câmbio, Daniel Gleizer acredita ser ainda mais difícil fazer projeções. "Os fluxos (de capital estrangeiro) continuam fortes, o comércio exterior continua forte. O que se verifica é que, sem a intervenção do Banco Central, seja no 'spot', seja retirando 'swaps', a tendência é de valorização (do real)", afirmou. Gleizer disse que o banco trabalhava com um projeção "algo como R$ 2,85", porém a estimativa também está sendo revisada. O presidente da Andima, Alfredo Neves Penteado Moraes, mostrou preocupação com a adaptação dos bancos ao novo cenário de crescimento da economia e da volta dos bancos à sua atividade tradicional - "poupar e emprestar". "A intermediação financeira no Brasil, embora sofisticada e tecnologicamente avançada, sofre de uma crônica anemia e ainda convive com profundas lacunas no atendimento de vários extratos sociais", disse Moraes, que também é vice-presidente do Banco ABC Brasil. Segundo ele, a longa batalha contra a inflação gerou demanda por "produtos financeiros fúteis" que consumiram a "inteligência das instituições". Moraes cobrou uma discussão "com profundidade" sobre os obstáculos ao desenvolvimento da atividade financeira no país, como "direcionamento do crédito, poupança compulsória e subsídios financeiros", além da redução da tributação que pesa sobre o custo, em forma de "spread" bancário elevado, para o tomador final de empréstimos.