Título: "Brasileiro não levanta traseiro para buscar banco mais barato", diz Lula
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, Finanças, p. C8
O presidente Luiz Inácio Lula da sancionou ontem a lei que cria o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado. Lula também assinou o primeiro convênio do novo programa, entre o Banco Popular do Brasil (BPB) e a Viva Cred - organização da sociedade civil de interesse público -, que vai destinar R$ 300 mil a moradores da Rocinha, no Rio. Pelo programa cada pessoa poderá pegar empréstimos de até R$ 5 mil, pagando juros máximos de 4% ao mês. No seu discurso, Lula criticou o comodismo do povo brasileiro, que não muda de banco para procurar juros mais baixos e nem deixa de utilizar cartões de crédito. "Ele (o brasileiro) não levanta o traseiro do banco, ou da cadeira, para buscar um banco mais barato, xinga toda noite os juros e no dia seguinte não faz nada para mudar", disse. Lula também atacou o excesso de burocracia dos bancos. "Nem sempre nos bancos públicos papel (garantias) valeu à pena. Tá cheio de banco público que quebrou tendo papéis que garantiam empréstimos", afirmou. O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado inicia com cerca de R$ 600 milhões disponíveis. Deste valor, R$ 400 milhões são oriundos da aplicação compulsória de 2% de todos os depósitos à vista de bancos públicos e privados e R$ 200 milhões são recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Da parte de recursos do FAT, R$ 43 milhões chegam ao programa via BNDES. "Acredito que em dois ou três anos podemos ter disponível R$ 1 bilhão para o microcrédito produtivo", afirmou Maurício Borges Lemos, diretor de inclusão do banco. O BNDES espera encontrar inadimplência de até 8% para seu programa de microcrédito, taxa considerada elevada nesse tipo de financiamento. "Nossa primeira carteira está mal montada, mas vamos corrigir isso para os outros projetos", disse Lemos. A avaliação do governo é que a inadimplência no microcrédito será baixa, de cerca de 3%. Lula criticou os bancos que temem calote em empréstimos baixos. "Não tem que ter preocupação nenhuma com isso. Parte do dinheiro tem que ser destinada para alavancar os pequenos (empreendedores). Mesmo dentro dos bancos públicos havia uma cisma grande, nossos bancos agiam como se fossem privados, só preocupados com o lucro. Lucro é importante, não podemos dar prejuízo para o Tesouro, mas os bancos estatais têm um função social a cumprir." Lula defendeu que o microcrédito produtivo ocorra sem intermediação bancária. "Há uma série de necessidades que os bancos não conhecem, essa relação tem que ser feita com entidades que não são financeiras."