Título: Meta dos bancos é a redução de custos
Autor: Jacilio Saraiva
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, TECNOLOGIA & TELECOMUNICAÇÕES, p. F1;2;3;4

Comodidade e conveniência são os principais benefícios da mais nova estratégia dos bancos brasileiros para racionalizar seus custos operacionais - o compartilhamento do uso de seus terminais de auto-atendimento eletrônico. O sistema está em operação experimental desde fevereiro, em três capitais (Curitiba, Recife e Brasília) com a utilização compartilhada dos caixas eletrônicos Automatic Teller Machine (ATM) e correspondentes bancários lotéricos pelos clientes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Depois de 90 dias se entenderá gradativamente para todo o país, mas a idéia é incorporar outros bancos, entre os quais Bradesco, Unibanco, Itaú, ABN AMRO e HSBC. "Nós estamos fazendo estudos junto com o BB e CEF para poder fazer esse compartilhamento da rede de ATMs e outros bancos deverão entrar também", confirma Márcio Cypriano, presidente do Bradesco e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Não é puro marketing. "Os bancos não têm mais vaidade para querer fazer tudo sozinhos. Isso acabou. Na verdade, essa postura era um diferencial de competição, mas hoje o auto-atendimento eletrônico virou uma commodity e não se justifica mais manter, isoladamente, uma rede externa de ATMs. Isso é luxo. Nós estamos tentando fazer algo de forma mais racional, reduzindo os custos e, conseqüentemente, transferindo essa diminuição de custos para os clientes", diz Cypriano. Num primeiro momento, os correntistas ganham mais em comodidade do que em custos mais baixos. Durante os 90 dias do projeto piloto, os usuários não vão pagar tarifas pela utilização dos 124 postos de atendimento eletrônico da Caixa e 434 casas lotéricas (que funcionam como correspondentes bancários da CEF), mais os 250 postos de atendimento eletrônico do BB. Porém, após essa fase experimental, quando a estratégia de cooperação atingir 7,2 mil terminais externos e 9 mil correspondentes bancários lotéricos, os clientes dos dois bancos pagarão pelo uso compartilhado tarifas de R$ 0,98 no saques feitos nos terminais de auto-atendimento e R$ 0,63 nas agências lotéricas. "Estamos acompanhando a evolução do projeto e sua aceitação junto ao público. Quando tivermos mais escala, é claro, esses custos serão reduzidos", afirma Edson Monteiro, vice-presidente de varejo do BB. Do ponto de vista dos bancos, compartilhar os recursos de infra-estrutura tecnológica é uma questão de racionalização. "As instituições financeiras fizeram grandes investimentos em tecnologia da informação, consolidaram suas estruturas e agora está na hora de obter melhor retorno pelo uso de seus espaços", diz Carlos Magno Gonçalves da Cruz, diretor executivo de TI da CEF. Ninguém está propondo, certamente, compartilhar a rede de agências. "Não vou abrir as portas das minhas agências para clientes de outros bancos, não posso abrir mão dessa vantagem competitiva", enfatiza Monteiro, do BB. "Mas não é preciso fazer nenhuma conta para verificar que teremos uma grande economia em termos de manutenção, abastecimento e reinvesti mento com o uso compartilhado dos nossos terminais externos", afirma. A expansão do modelo para os demais bancos vai exigir uma estrutura mais centralizada para receber todas as transações. Só a CEF e o BB têm um volume acima de 3 bilhões de transações apenas em auto-atendimento. Na fase inicial da operação, o BB e a CEF atuam com uma conexão ponto-a-ponto. Com a ampliação do sistema, incluindo outros bancos, como, por exemplo, o Bradesco, que possui mais de 25 mil máquinas em todo o país, será criada uma nova empresa, denominada Bancos Integrados, para atuar como entidade de intermediação das operações. "Essa empresa vai cumprir o papel de clearing", diz Monteiro. O modelo de compartilhamento dos recursos de TI deve incluir outras modalidades de colaboração, avalia a Febraban. "A intenção é compartilhar também o abastecimento das máquinas com dinheiro, o sistema de transporte de malotes e toda a logística de manutenção", destaca Márcio Cypriano. No caso do abastecimento de dinheiro das ATMs, um piloto está em andamento em Florianópolis (SC), numa iniciativa do Bradesco, BB, HSBC, Unibanco, Banespa e Banco do Estado de Santa Catarina (BESC). São 122 caixas eletrônicos em 73 pontos abastecidos por um sistema único de carro-forte. "O objetivo é obter uma economia da ordem de um terço dos custos totais que temos com essas máquinas", diz o executivo.