Título: BB e CEF vão atuar juntos nas ATMs
Autor: Jacilio Saraiva
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, TECNOLOGIA & TELECOMUNICAÇÕES, p. F1;2;3;4

O acordo selado entre a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil de compartilhamento de terminais eletrônicos (ATM) pode significar a transição de um modelo de redes independentes no setor financeiro, que prevalece há cerca 20 anos, para o de redes compartilhadas. Isso trará benefícios para os bancos, os clientes e os fornecedores de soluções de automação bancária e auto-atendimento. Trata-se de um movimento incipiente no qual, entretanto, a indústria vislumbra boas oportunidades de negócios no curto prazo à medida que os clientes tiverem acesso a várias opções de serviços, além das tradicionais operações de saque, consultas de saldos e de extratos e transferência eletrônica de dinheiro. A realização dessas três modalidades de serviço, que representam 90% do montante de transações processadas nos terminais de auto-atendimento, não requer grande sofisticação tecnológica. A avaliação da indústria é que quanto maiores o volume e a variedade de transações haverá a necessidade de investimento na modernização dos sistemas e dos equipamentos atualmente em operação. Será necessário, por exemplo, promover modificações no software que equipa as máquinas de forma a possibilitar a interligação dos sistemas, a compatibilização tecnológica e a inclusão de novas funcionalidades para que o cliente de um banco possa utilizar o terminal ATM de outra instituição financeira, acredita Nori Lermen, diretor comercial da Perto, que há 15 anos atua no segmento de automação bancária e detém 30% do parque de terminais ATM. Por outro lado, ele trabalha com a perspectiva de que o compartilhamento tende a acelerar o processo de substituição da base instalada - de aproximadamente 160 mil unidades -, a grande maioria dos quais com tempo de uso entre seis e oito anos, por uma geração mais avançada, capaz de processar diversas transações de diferentes instituições financeiras. "O compartilhamento vai exigir mais capacidade de processamento", explica Lermen. A renovação da estrutura de software e de hardware é complexa, consome alto investimento e demanda tempo, pois os bancos costumam aplicar parte dos recursos na expansão da rede e parte na troca de equipamentos. Além disso, o ambiente tecnológico dos bancos caracteriza-se pela heterogeneidade dos sistemas, o que torna indispensável um esforço de compatibilização. O compartilhamento abre caminho para o surgimento de um novo tipo de terminal de auto-atendimento, com características de multifuncionalidade, modularidade e requisitos mínimos de padronização. O diretor comercial da Perto acredita que a ampliação de novos serviços nos terminais deve começar em no máximo dois anos. Já o processo de atualização da base instalada não leva mais que um ano. O acordo envolvendo as duas instituições públicas federais e o interesse manifestado por bancos privados de varejo, como Bradesco, Unibanco, Itaú, Real/ABN Amro e HSBC, de participar do sistema compartilhado de terminais eletrônicos alimentam a expectativa de investimentos maciços na renovação da base instalada. A Perto programou investimentos da ordem de R$ 9 milhões no desenvolvimento de uma nova geração de equipamentos para suprir a demanda do setor. A meta, este ano é comercializar entre 4.500 e 5.500 unidades, alcançando um faturamento de R$ 120 milhões, 30% a mais que o registrado no exercício 2004. A NCR está triplicando a capacidade de produção de sua unidade industrial, localizada em São Paulo, que terá condições para fabricar 2 mil unidades de terminais ATM por mês. Segundo Renato Mascarette, presidente da subsidiária brasileira da companhia, parte da produção será destinada aos países da América Latina. O executivo não revela o investimento na ampliação da fábrica e nem a meta de exportações. O primeiro lote contendo 200 máquinas foi embarcado para o Chile. Para Mascarette, o compartilhamento irá melhorar a distribuição dos terminais, aumentar a capilaridade da rede de auto-atendimento dos bancos e permitir melhor alocação dos recursos dos equipamentos. Mas, ao contrário Lermen, da Perto, ele não vê necessidade de atualização dos equipamentos. "Basta trocar o aplicativo para permitir que o cliente de um banco utilize o terminal de outra instituição financeira, o que não exige grandes investimentos", diz. Segundo ele, a NCR ocupa 60% do mercado de automação bancária na América Latina. No Brasil, a participação gira em torno de 10% a 20% e tende a crescer se o movimento de compartilhamento de terminais eletrônicos emplacar. As chances são boas se o preço das tarifas não forem altos, diz, numa referência à Tecnologia Bancária (Tecban), a primeira experiência de rede compartilhada no setor financeiro do país, que, segundo Mascarette, não ganhou força por causa do valor das tarifas. (I.C.)