Título: Telefonia celular usa a mesma infra-estrutura
Autor: Jacilio Saraiva
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, TECNOLOGIA & TELECOMUNICAÇÕES, p. F1;2;3;4

Há cerca de uma década, período em que a telefonia celular começava a engatinhar no Brasil e que as bandas utilizadas dividiam-se entre A e B, as poucas operadoras móveis existentes enxergavam na infra-estrutura própria uma arma para sair na frente da concorrência e conquistar assinantes. Afinal, entre escolher um bom terreno, obter a licença, preparar o lugar e montar uma Estação Rádio Base (ERB) é uma tarefa que consome até dois anos. Após a explosão do mercado com a entrada de várias concorrentes e contabilizados os prejuízos acumulados com a montagem da operação, subsídio de aparelhos celulares e ticket médio por assinante abaixo do esperado, compartilhar da mesma infra-estrutura de telecomunicações tornou-se palavra de ordem tanto para quem cede espaço em seu terreno quanto para quem busca alugar. A infra-estrutura por si só deixou de ser o principal ativo das operadoras para transformar-se em um meio de engordar o orçamento de umas e facilitar a entrada rápida ao mercado - o chamado time-to-market - de outras. O fenômeno do compartilhamento da infra-estrutura teve início em 2001 e, hoje, todas as operadoras são suas adeptas como é o caso da Vivo, Claro, TIM e Oi. Desta forma, custos com montagem e manutenção são divididos, beneficiando não só as operadoras, mas também os consumidores e o meio-ambiente em uma situação de ganha-ganha. As operadoras são as primeiras a obter ganhos com o compartilhamento. Com esta prática, elas ganham uma implantação mais rápida de suas ERBs, obtêm os melhores pontos para cobertura do serviço e ainda reduzem custos. "Nossa política aponta para o compartilhamento. Queremos colocar nossa planta à disposição de qualquer operadora", afirma Javier Rodriguez, vice-presidente de tecnologia e redes da Vivo. Já o consumidor consegue usar seu celular em uma área de ampla abrangência e o meio-ambiente tem sua paisagem e espaço urbano preservados. No lugar de três torres, o cidadão se depara com apenas uma. "Em média, há quatro operadoras por região. Se cada uma tiver 200 torres, serão 800 torres em uma única cidade, o que é uma agressão ao visual " , calcula Álvaro Moraes, CTO (Chief Technology Officer) da TIM. Foi por conta de todos esses motivos que, desde seu começo, a Oi, cuja atuação teve início em 2002 como terceira operadora na região 1 (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Norte e Nordeste), optou pelo compartilhamento. "Como não tinha sentido construir do zero uma rede nova em Estados onde já havia duas outras operadoras atuando, nosso mote foi sempre compartilhar da mesma infra-estrutura", conta Maxim Medvedovsky, diretor de Relações com Operadoras da Oi. O que é repartido hoje entre as operadoras é a infra-estrutura - o que inclui terreno, obra civil e torre - e não a eletrônica e a antena. "Equipamento, cabo e antena não se compartilham. Além de a tecnologia ser de difícil compartilhamento, não é isso que traz a principal economia", explica Moraes. A infra-estrutura costuma representar mais da metade do custo de uma estação. Atualmente, dos 3890 sites da Oi, 78% funcionam em modelo de compartilhamento. Medvedovsky conta que enquanto a Claro vai lançar operação em Minas Gerais utilizando as redes da Oi, no Rio de Janeiro a Oi compartilha a infra-estrutura com a TIM e a Claro. "É uma relação de mão dupla", define. A TIM que, no início, apresentava restrições em relação ao compartilhamento acabou mudando de idéia com o passar do tempo. Seguindo a tendência, hoje a operadora mantém parceria com a Brasil Telecom, Oi, Vivo e Claro. Desde o ano passado, a palavra de ordem na Vivo também é compartilhar. "Se não estivermos presentes em uma região, iremos sempre procurar outras operadoras ao invés de simplesmente construir um site", diz Rodriguez. Presente em 19 Estados mais o Distrito Federal, apenas 18% dos sites da Vivo são próprios. Todo restante funciona em modelo de compartilhamento.