Título: Investimentos em fibra óptica devem ser retomados
Autor: Jacilio Saraiva
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2005, TECNOLOGIA & TELECOMUNICAÇÕES, p. F1;2;3;4

Tendência entre as grandes corporações, o compartilhamento da rede de fibra óptica impulsiona os investimentos na expansão da malha instalada nas grandes cidades, para a oferta de serviços de transmissão de dados em alta velocidade, e acena com a retomada do crescimento do setor após quase quatro anos de estagnação. A Iqara Telecom segue firme na estratégia de investir na ampliação da capilaridade de sua rede com o objetivo de consolidar a sua participação no mercado. No ano passado, a empresa investiu R$ 40 milhões e cresceu 345% em faturamento. A meta em 2005 é crescer 50%. Para tanto, planeja aplicar o equivalente a R$ 20 milhões para aumentar de 180 a 200 quilômetros a extensão de sua rede na cidade de São Paulo. A grande aposta é na ativação de edifícios comerciais. Segundo Fernando Mello, presidente da empresa, no ano passado foram ativados 400 prédios, o que corresponde a um potencial de aproximadamente 11 mil empresas de médio e grande portes. A expectativa este ano é ativar mais 200 edifícios. A rede da Iqara Telecom interliga 12 bairros da capital paulista e dez cidades do Interior. A empresa oferece serviços de acesso em banda larga para operadoras de telefonia e provedores de serviços de internet. A malha também é utilizada para interligação metropolitana de data centers e de sites dos bancos. Parte da malha da empresa aproveita a infra-estrutura da Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), de 2.400 quilômetros de extensão, que alcança mais de 300 mil consumidores em 18 municípios. A prioridade da empresa nos próximos anos será a expansão de serviços baseados na tecnologia Gigabit Ethernet, que aumenta a capacidade de compartilhamento da fibra e a velocidade de transmissão de pacotes de dados. A redução do custo para o cliente chega a ser em média de 50%. O modelo de negócio adotado é o serviço on demand com remuneração calculada com base na alocação da rede. "A estimativa é que o serviço Gigabit Ethernet responda por 22% do nosso faturamento e por 51% do tráfego da nossa rede", diz Mello. Enquanto a Iqara Telecom concentra esforços no mercado doméstico, a Global Crossing, ao contrário, oferece a sua infra-estrutura para conexão de seus clientes com o exterior. A companhia não possui uma rede urbana no Brasil, mas um backbone de fibra óptica internacional com cobertura em mais de 30 países e que possibilita a oferta de serviços de voz e dados baseados no protocolo IP. A empresa tem pontos de interconexão em São Paulo e no Rio de Janeiro e um sistema de cabos submarinos que conecta a América Latina e Caribe ao resto de sua rede global. "Nosso foco é atender as companhias que querem se expandir no mercado internacional sem que, para isso, tenham que investir na montagem de uma rede própria", afirma Gilberto Silva, diretor geral da Global Crossing. A empresa tem como clientes operadoras de telefonia como o Grupo Telmex, com a qual firmou, contrato para interconectar as suas operações na América Sul, México e Estados Unidos - o que inclui as empresas recentemente adquiridas na região, casos da Embratel, AT&T Latin America, MetroRed Argentina, Techetel e Chilesat. Além disso, atende clientes que possuem redes internacionais e empresas com sede no exterior e pontos de presença no Brasil. De acordo com o executivo, a empresa contabiliza uma carteira de 80 clientes no mercado brasileiro, que incluem as carriers e as corporações de outros ramos de negócio. Entretanto, 80% dos negócios resultam de contratos firmados no exterior. Presente no Brasil desde 2000, a empresa desenvolveu uma modalidade de serviço, denominada Fast Track, no qual o cliente utiliza o recorte da rede como se fosse sua e as soluções da Global Crossing para prover serviços de acesso aos seus clientes. Em contrapartida, assume a responsabilidade sobre a gestão da rede. Opcionalmente, a Global Crossing oferece serviços de provisionamento, instalação e manutenção de equipamentos. "Já contamos com 14 clientes dessa modalidade de serviço no mundo", diz Silva, acrescentando que a meta, no Brasil, é fechar dois contratos este ano. Com os investimentos na expansão da malha de fibra, os fabricantes de cabos ópticos apostam no início da retomada dos negócios a partir de 2006, não no mesmo nível do registrado no período entre 1998 e 2001, quando começou a privatização do sistema Telebrás, mas um pouco acima do auferido nos últimos quatro anos. Os fabricantes passam por um momento de reestruturação. A Furukawa, por exemplo, firmou um a joint-venture com a Pirelli para a produção de fibras ópticas. Com sede em Sorocaba (SP), a Sociedade Produtora de Fibra Ópticas (SPF), como foi batizada, terá capacidade para produzir 600 mil quilômetros de fibra por ano, revela Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa. O montante está muito aquém do pico de 4 milhões de quilômetros por ano do período entre 1998 e 2001 - dos quais 70% foram destinados às operadoras de telefonia -, mas representa exatamente o dobro na produção atual no mercado brasileiro, que é de 300 mil quilômetros de fibra por ano.