Título: País vai mesmo abandonar eleição na OMC
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Fonte: Valor Econômico, 27/04/2005, Brasil, p. A3
Nem o candidato francês, nem o uruguaio, muito menos o das Ilhas Maurício: o Brasil pretende se abster em relação aos três nomes em disputa para a diretoria-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), confirmou o subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos, Clodoaldo Hugueney. Na primeira etapa de consultas para escolha do próximo dirigente máximo da OMC, foi eliminado o candidato brasileiro, Luis Felipe Seixas Corrêa, para desagrado do governo brasileiro, que considerou o processo de eliminação "pouco transparente" e teve negado seu pedido de informações sobre os votos dos países. Nesta semana, acaba a segunda etapa, que eliminará mais um candidato. "Questionamos a transparência e os critérios usados na seleção dos candidatos", explicou Hugueney, ao Valor. Desde o início estava claro para todos que o processo de escolha na OMC é o de busca de consenso, e não uma seleção pelo voto majoritário, comentou ele. A recusa em informar a colocação dos diversos candidatos, sob alegação de compromisso de confidencialidade, impede que os países possam avaliar qual deles tem mais condições de ser aceito por todos os 148 membros da organização, diz ele. O Brasil não questiona a legitimidade do futuro eleito, mas se considera sem condições de participar da eleição, acredita o Itamaraty. Clodoaldo diz acreditar que a decisão do Brasil não trará constrangimentos ao país, porque outros cinco governos já se abstiveram, ainda na primeira etapa. "A abstenção é uma prerrogativa democrática", argumenta. O governo brasileiro lançou com atraso a candidatura de Seixas Corrêa, semanas após o lançamento do uruguaio Carlos Perez del Castilho - que obteve apoio da maioria dos países sul-americanos. Já se sabia que, por isso, o candidato brasileiro tinha menos chances de estar entre os primeiros mais votados, mas alimentava-se a esperança de que fosse um dos escolhidos como segunda opção dos membros da OMC, o que lhe daria a condição de candidato com um dos menores índices de rejeição. A presidência do Conselho-Geral da OMC não divulgou a colocação dos candidatos e anunciou a eliminação de Seixas Corrêa, frustrando os diplomatas brasileiros. Permanecem na disputa, além de Perez del Castilho, o ex-comissário de Comércio da União Européia, Pascal Lamy, e o candidato africano, das Ilhas Maurício, Jaya Krishna Cuttaree - este último fortemente votado por ter apoio de países africanos e ex-colônias européias do Caribe, mas considerado um candidato fraco, comprometido apenas com a manutenção do sistema de preferências européias para os países mais pobres. O Brasil se considera impedido de apoiar Perez del Castilho, duramente criticado pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por ter cedido às pressões da União Européia e dos estados Unidos na elaboração da proposta de liberalização do setor agrícola, durante a reunião ministerial da OMC, em Cancún, no final de 2003. Embora até o próprio Amorim considere Lamy um candidato com competência e capacidade de liderança necessários para a direção-geral da OMC, os argumentos contra Castilho valem ainda mais para o candidato francês, autor da proposta européia abrigada por Perez del Castilho em Cancún. O uruguaio Carlos Perez del Castillo é o mais ameaçado de ser eliminado da disputa na OMC, avaliam fontes em Genebra. O comitê de seleção espera dar o nome do eliminado nesta sexta-feira. Se Castillo sair da disputa, restarão Lamy e Cuttaree. São os menos comprometidos com liberalização agrícola. "Se um deles ganhar, a Rodada Doha vai ter resultados fracos", estima um importante negociador. (Sergio Leo, com Assis Moreira, de Genebra)