Título: Policiais complicam governador
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2010, Cidades, p. 26

Segundo a vice-procuradora-geral da República, três integrantes da Polícia Civil disseram em depoimento que Arruda interferiu em investigações Deborah Duprat disse que policiais civis tiveram coragem, agora, de denunciar porque o governador está preso

Ao defender a manutenção da prisão preventiva do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido), a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, revelou ontem no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) fato inédito apurado nas diligências da Operação Caixa de Pandora. Duprat disse que a reclusão de Arruda encorajou policiais civis do Distrito Federal a detalhar em suposta interferência do chefe do Executivo local em investigações relacionadas a seu governo.

¿Policiais civis tiveram coragem, agora, porque o governador está preso, de denunciar que em outras duas operações o governador tinha interferido para impedir que houvesse investigação a respeito de Marcelo Toledo e de um outro doleiro¿, sustentou a procuradora. Ao fim da sessão no STF, Duprat afirmou que três delegados da Polícia Civil do DF prestaram depoimento aos promotores no dia 1º de março.

O Correio apurou que o Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF ouviu os delegados Celso Ferro, Marco Aurélio de Souza e Cícero Jaime ¿ o primeiro aposentado e os outros dois da ativa. Os depoimentos foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República (PGR) por envolver diretamente o nome do governador.

Os delegados contaram que participaram de uma reunião na residência Oficial de Águas Claras em que houve uma cobrança de Arruda à cúpula da área de segurança pública sobre o andamento de investigações relacionadas ao policial civil aposentado Marcelo Toledo e ao doleiro Fayed Trabously. Estavam em curso dois inquéritos sob a responsabilidade do Ministério Público: as operações Tucunaré e Tellus, relacionadas, respectivamente, à lavagem de dinheiro e à cobrança de propina para liberação de lotes no programa Pró-DF, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. As investigações incluíam escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.

Marcelo Toledo e Fayed foram interceptados. Arruda não teria gostado da investigação contra Toledo, apontado durante a Operação Caixa de Pandora como um dos operadores de desvios de recursos de prestadoras de serviço. O policial aparece em um dos vídeos gravados por Durval Barbosa entregando dinheiro ao então assessor de imprensa de Arruda, Omézio Pontes.

Teor Um dos depoimentos foi prestado pelo delegado aposentado Celso Ferro, ex-diretor de Atividades Especiais da Polícia Civil do DF, conhecido pela perícia de captação telefônica como meio de prova em investigações policiais. Hoje consultor na área de informação, Ferro contou aos promotores que prestou serviços a Arruda, mas disse que não recebeu qualquer pagamento por isso.

Ele confirmou ainda a autoria de um relatório sobre investigações clandestinas sobre as atividades do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT). O documento foi encontrado na casa do conselheiro Domingos Lamoglia, do Tribunal de Contas do DF, durante busca e apreensão da Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 27 de novembro. No relatório, Celso Ferro aponta informações sobre o trabalho dos promotores e chega a dar detalhes sobre o andamento da investigação relacionada ao escândalo que levou à renúncia do ex-governador Joaquim Roriz no Senado.

Também prestou depoimento o ex-diretor do Depate Cícero Jaime, pessoa da confiança de Celso Ferro, afastado da função por Arruda durante a Operação Tucunaré porque não estaria colaborando com os interesses do Executivo. Outro ouvido foi o delegado Marco Aurélio de Souza, ex-diretor da Divisão de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap).

PF atrás de novas provas do suborno Edilson Rodrigues/CB/D.A Press - 12/1/10 Sigilo de e-mails de Geraldo Naves é quebrado por decisão judicial

Reprodução da Polícia Federal - 04/02/10 Em vídeo que motivou as prisões, Bento entrega dinheiro a Sombra

» Edson Luiz » Lilian Tahan

A Polícia Federal cumpriu ontem seis novos mandatos de busca e apreensão referentes à Operação Caixa de Pandora, que investiga o suposto esquema de arrecadação e pagamento de propina no Distrito Federal envolvendo o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido). Os agentes estiveram na Secretaria de Informática da Câmara Legislativa do DF, na sede da Companhia Energética de Brasília (CEB) e na residência de um funcionário da Linknet Tecnologia, em Goiânia (GO). Os outros três locais não foram informados.

Desta vez, policiais federais estavam atrás de provas da tentativa de suborno do jornalista Edson dos Santos, o Sombra, uma das principais testemunhas do esquema. A tentativa de suborno levou Arruda e mais cinco aliados à prisão por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na noite de ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou habeas corpus ao governador afastado, que continuará detido na Superintendência da PF, no Setor Policial Sul, por tempo indeterminado.

Duas buscas foram realizadas na capital do país pela manhã, mas a PF não informou em quais locais. À tarde, os agentes estiveram na Câmara Legislativa e no prédio da CEB, na 601 Norte, onde trabalhava Haroaldo Brasil, outro preso pela tentativa de suborno. Na Câmara, os federais vasculharam um servidor de e-mail, em busca de correspondências do suplente de distrital Geraldo Naves (DEM), preso desde o último dia 12 na Papuda. Ele é acusado de intermediar a operação de tentativa de suborno a Sombra. Antônio Bento, ex-conselheiro do metrô, foi preso após entregar R$ 200 mil ao jornalista no Sudoeste.

Segundo fontes da Polícia Federal, as buscas nos seis alvos tinham como objetivo servidores de e-mails. A determinação foi dada pelo ministro Fernando Gonçalves, do STJ. Ele preside o inquérito judicial que apura o suposto esquema de propina envolvendo empresários e servidores do GDF. Por meio do Ofício nº 331/2010, o ministro comunicou a quebra de sigilo telemático de Geraldo Naves.

¿Determino que seja dado amplo e imediato acesso à autoridade policial federal, portadora deste ofício, a todas as mensagens eletrônicas emitidas e recebidas durante o período de 1º de janeiro a 4 de fevereiro de 2010¿, determinou o ministro, que ainda pediu a mesma providência na Linknet, em Goiânia. A empresa é apontada pelo ex-secretário de Assuntos Institucionais do GDF, Durval Barbosa, como a firma que teria abastecido o caixa dois da campanha do governador afastado. A empresa registrou na Justiça R$ 2.011.922,14 em doações nas últimas eleições a candidatos do DF e de Goiás.

Ações contínuas Essa é a quinta vez que a Polícia Federal realiza busca e apreensão da Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 27 de novembro. No último dia 13, a PF cumpriu 21 mandados. A ação envolveu o Palácio do Buriti, o Buritinga ¿ sede provisória do governo local ¿ o Na Hora ¿ um posto de serviço públicos rápidos ¿, além de 12 endereços de pessoas supostamente ligadas ao esquema de arrecadação e pagamento de propina. Foram apreendidas mídias eletrônicas, como CDs, documentos, além de US$ 2,6 mil e R$ 1 mil.

No último dia 11, quando Arruda foi preso por determinação do STJ, a PF vasculhou a Residência Oficial de Águas Claras, a casa particular do governador afastado e o Buritinga. No fim do ano passado, a PF apreendeu documentos e um computador na sede do Instituto Fraterna, organização não governamental comandada pela primeira-dama, Flávia Arruda. Os policiais federais também cumpriram mandados de busca e apreensão no escritório político do governador, onde funcionou um de seus comitês na campanha de 2006.

Opinião do internauta

Leitores comentaram no site do Correio a abertura do processo de impeachment contra José Roberto Arruda e sobre a manutenção da prisão do governador afastado. Leia algumas opiniões:

Carmélio Silva ¿Parabéns ao Supremo por esta decisão (de negar o habeas corpus a Arruda). Havia comentários de que Arruda, se solto, iria renunciar e em seguida fugiria.¿

Solimar Nascimento ¿Toffoli já chega de passo errado. Vamos fazer justiça, ministro.¿

Luiz Carlos Tanaka ¿Este julgamento resgata a credibilidade do STF.¿

José Araújo "Parabéns, STF! Com essa decisão a Justiça dá um basta na pouca vergonha da Câmara, que estava pedindo a Deus pela absolvição do Arruda para poder continuar as negociatas para o adiamento e arquivamento do processo de impeachment."

Vania Coelho "Amei o pronunciamento do ministro Ayres Brito. Segue a pérola para quem não ouviu: \"Há pessoas que sobem aos mais altos postos para cometerem as mais baixas torpezas\". O Ministro disse tudo."

Gervásio Gonçalves "Podem escrever: ainda vêm outros vídeos. Mais pessoas podem estar envolvidas, sei lá. E o que será que tem naquela carta que o \"chefão\" deixou com um familiar, amigo e outra cópia com advogado? Além do chamado baixo clero, acredito que também tem gente do alto clero."

Felippe Gomes "É um grande absurdo manter essa prisão. Tantos com prova de culpa e nunca aconteceu nada, enquanto do Arruda só existe indícios e ele fica preso, o melhor governador que Brasília já teve!"

Mônica Miranda ¿Tudo é um grande jogo eleitoral. Se prestarmos bem atenção às movimentações que estão sendo feitas, vamos perceber que realmente são ações planejadas. (¿) Soltem o Arruda. Vamos parar com a hipocrisia.¿

Wesley Oliveira ¿Eleições chegando e ninguém quer se queimar colando no Arruda.¿

Marcos Vale ¿Em um futuro bem próximo, vamos saber que tudo isso não passou de um grande circo. As ações contra o governador Arruda estão sincronizadas. Não há nenhuma imparcialidade no julgamento. Querem cassar o Arruda sem dar a ele o direito de se defender. Estamos diante de um processo ditatorial.¿

Franklin Wilson ¿Será que a CLDF está tomando vergonha na cara ou essa aprovação da abertura de impeachment não passa de mais uma manobra política?¿

Wilson Lelis ¿Ainda é só o começo. Quando for realmente a votação para o impeachment, veremos os `curriolas¿ inventando dispensas médias, dores aqui, morte da tatatataravó para se ausentar da votação.¿